12/24/2007

MUDOU O NATAL OU MUDAMOS NÓS?



MUDOU O NATAL
OU MUDAMOS NÓS?

Joaquim Branco


É mais fácil se encontrar a temática natalina nas páginas dos jornais, almanaques e revistas do que propriamente nos livros de literatura. E, dentre esses últimos, nota-se a preferência dos escritores mais para os gêneros conto e crônica do que para poesia ou romance.

Na literatura europeia, de mais tradição que a nossa, respingam aqui e ali obras de renome que tratam dos temas de Natal: as de Maupassant, Gorki e Dostoievski e alguns outros. Não são muitas.
No Brasil, menos ainda: as de Machado – é claro –, Mário de Andrade, Drummond, João Cabral e poucas mais, entre as dignas de nota.

Nestas considerações, vamos destacar apenas um estrangeiro e um brasileiro: de um lado, o inglês Charles Dickens (1812-1870) e, de outro, o nosso João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Assim, a balança fica de certo modo equilibrada.

Dickens, para os leitores britânicos, praticamente inventou o Natal com o conto “O Natal do Sr. Scrooge” (“A Christmas Carol”), publicado em 1843, pois imediatamente conquistou todo o público de seu país e depois o mundo. A magistral história de Dickens narra a véspera e o dia de Natal do infeliz Sr. Scrooge, um avarento que atormentava a vida de seus empregados e de todos os que o rodeavam.

Na noite do dia 24 de dezembro, quando se preparava para dormir, lhe aparece o terrível fantasma de um antigo sócio, o Sr. Marley. Passado o susto inicial, o velho Scrooge ouve a aparição lhe dizer que seria perseguido por três espíritos e estes iriam lhe mostrar o Natal passado, o Natal presente e o Natal futuro. Scrooge viu, então, passar diante dos olhos acontecimentos pavorosos de sua vida, durante toda a noite.

Quando acordou no dia seguinte, sentiu-se aliviado e transformado em outro homem, e com a possibilidade de se penitenciar do mal que fizera durante a vida. Logo começou a distribuir alegremente presentes e felicidade aos parentes, empregados e a famílias de conhecidos. A história de Dickens é um clássico da redenção de um homem pelo arrependimento, no estilo romântico de seu tempo, o século XIX.

Bem outra história nos conta em versos o poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto, com “Morte e vida severina”, um Auto de Natal pernambucano publicado no século XX, em 1956, e que obteve o maior sucesso quando o compositor Chico Buarque de Holanda o transformou numa peça musicalizada.
Nele, Cabral realça o lado social em detrimento do religioso, mas a obra ganha em dimensão humana. A descrição da vida nordestina ‘coincide’ com as agruras do brasileiro pobre e marginalizado para, no final, retomar o motivo religioso e natalino com a alegria do nascimento de um menino-símbolo.

São histórias bastante diferentes, a de Dickens e a de Cabral. Na primeira, o protagonista se redime para penetrar e ser aceito no Romantismo do Oitocentos; no outro, o personagem principal, integrado à paisagem e à miséria do século XX, se supera pela esperança no nascimento de um filho. Estariam ambos, cada um a seu modo, dentro do espírito natalino de seus tempos?

Agora quem sabe possamos responder à insistente pergunta de Machado de Assis no final de seu conhecido “Soneto de Natal”: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”

(Fotomontagem: Natália Tinoco)(Desenho de Cabral: Di Carrara)

11/30/2007

CATAGUASES - História

TEATRO RECREIO CATAGUASENSE


Frente do Teatro Recreio Cataguasense
(hoje Edgard Cine-Teatro), na Praça Rui Barbosa,
em comemoração de data cívica.
(Arquivo Joaquim Branco)

11/23/2007

CATAGUASES - História

COLÉGIO CARMO

Antiga Escola Normal e Ginásio Nossa Senhora do Carmo (em reforma), hoje Colégio Carmo, fundado pela Irmãs Carmelitas em 1912.

CATAGUASES - História

COLÉGIO CARMO
Alunas da antiga Escola Normal e Ginásio Nossa Senhora do Carmo, hoje Colégio Carmo. Foto de Iannini, 1939.

CATAGUASES - História

COLÉGIO WEBSTER

Em 1886 foi fundado o Colégio Webster pela professora portuguesa Carolina Webster, seu marido - o inglês Denis Webster - e outros professores. Funcionava como internato para moças, em São Diniz, município de Cataguases.
Em 1898 o colégio foi fechado devido à morte de muitas alunas e professores em conseqüência da febre amarela que chegou à cidade em 1889. (Dados obtidos com o prof. de História Gilmar Moreira Gonçalves)

11/11/2007

CATAGUASES - História

Chegada a Cataguases pela Ponte Metálica para a festa em homenagem a João Pessoa, em 26.07.1931. Coleção Joaquim Branco (doação de Guilhermino Cesar).

11/06/2007

POEMAS NA BLOGOSFERA

"Em 'Poemenergy', ao contrário de Poe e Baudelaire que botam álcool na cuca para bombear poesia, Joaquim Branco bota poesia na bomba para produzir álcool."
(Álvaro de Sá, poeta e crítico)

10/13/2007

"MEIA-PATACA: A TERCEIRA MARGEM"

Primeiras recepções ao livro Meia-Pataca: a terceira margem:

Caro Joaquim Branco,
desde o instante em que recebi o Meia-pataca: a terceira margem até agora vou garimpando cada palavra do livro, a minha emoção tem sido única: semelhante à daquele desbravador no século XIX quando encontrou meia-pataca de ouro no riacho que corta a pequena mas histórica Cataguasas, meio escondida entre montanhas das Minas Gerais.
Você, Joaquim, como doutor em Literatura, catedrático e exímio poeta, e os jovens Felipe e Roberto, alunos seus no curso de Letras, foram fundo no trabalho de pesquisa, análise e crivo das fontes consultadas. O resultado é um livro primoroso, produzido com fios de ouro puro, de originalíssimo quilate, porque estudo sério, seguro, indispensável, para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre a história da literatura brasileira, ou mesmo pelo prazer da leitura de bons livros. No meu caso particular, a leitura é proveitosa nos dois sentidos; eu conheço os passos da geração da Verde e da geração do Totem, mas desconhecia inteiramente o trabalho dos poetas da revista Meia-Pataca.
Quanto à capa do livro é belíssima e sugestiva. A ilustração com perfil dos poetas Lina Tâmego e Francisco Marcelo Cabral, o texto da primeira página da revista, levemente impresso sobre as águas do riacho tendo às margens o verde das matas, é uma configuração genial do fato histórico da descoberta da pataca de ouro e da criação da revista Meia-Pataca. Na contracapa, outra tacada de primeiríssima. A foto em grupo dos autores do livro, para mim, simboliza as duas gerações da literatura cataguasense: de Joaquim Branco, a geração do Totem; de Roberto e Felipe, a geração do pós-Totem. O que mais posso dizer? Talvez uma certa sintonia mágica com o número 3 nas ilustrações. O homem (os poetas), a natureza (o riacho e a mata) e o sonho ou a memória (a poesia, o texto).
Parabéns.
Fico agora aguardando a edição em livro sobre a geração do Totem, reconhecidamente importantíssima. Não apenas por ter se colocado à frente dos projetos de vanguarda, mas também por haver levado o nome da literatura cataguasense para além das terras brasileiras.
Um forte abraço do velho amigo contista amazonense
ADRINO ARAGÃO. (Contista, crítico, autor de “Tigre no espelho”, entre outros livros).
29.09.2007.

Prezado Joaquim Branco:
Há dias, Lina me entregou um exemplar de Meia-Pataca: a
terceira margem, que estou lendo com gosto e proveito. É
uma preciosidade de história literária, enfocando um momento
importante das letras em Minas e no País. Parabéns a você e
aos seus companheiros, Felipe Fritiz e Roberto Júlio.
Hoje, recebo também Cidade Interior, de Francisco Marcelo
Cabral, que já estou lendo.
Cataguases sempre marcando presença!
Abraço de
ANDERSON BRAGA HORTA (Poeta, crítico). Brasília DF.
24.09.2007


Muito estimado Joaquim,
Com muita alegria recebi seu novo trabalho, sobre a Meia-pataca. Já comecei a ler. Impressionante.
Agradeço imensamente sua lembrança e a oportunidade que me oferece de atualizar minha bibliografia crítica.
Grande abraço, com a estima da
CARLINDA NUÑEZ. – Rio de Janeiro
Professora de teoria literária da UERJ, crítica literária. Rio de Janeiro RJ.
26.09.2007

Prezado Joaquim,
Recebi, hoje, o livro Meia-Pataca: a terceira margem.
Importante resgate para o acervo literário da cidade
de Cataguases.
Parabéns a todos: Joaquim, Felipe e Roberto.
HUGO PONTES (poeta visual. Mora em Poços de Caldas MG).
08.10.2007

Belo Horizonte, 1º de outubro de 2007.
Prezado Joaquim Branco.
Recebi o livro Meia-Pataca: a terceira margem.
O estudo profundo realizado por você, Felipe Fritiz e Roberto Júlio sobre os rastros deixados pela revista é notável.
Apresento-lhes meus parabéns.
Junto a este pequenas considerações que fiz sobre os 80 anos do lançamento da revista Verde.
Um grande abraço do amigo e admirador
LUIZ CARLOS ABRITTA (Escritor, presidente da Academia Mineira de Letras). Belo Horizonte.

Oi Joaquim,
recebi aqui o belíssimo e importantíssimo ensaio sobre a Meia-Pataca, obrigado. E parabéns por mais essa empreitada em direção às nossas raízes.
Abraço grande do amigo, que te admira,
luiz ruffato
LUIZ RUFFATO (ficcionista) – São Paulo SP.

São Paulo, 30.setembro.2007
Prezado Escritor.
Encontro, em meio à avalanche de correspondência chegada nos últimos dias, a Meia-Pataca: a terceira margem, que teve a gentileza de me mandar.
Parabéns a todos que participaram da publicação, pois é importante para a memória dos nossos tempos que iniciativas como a da revista Meia-Pataca, nos idos de 40, não se percam na poeira dos arquivos e sejam preservadas em livro. Encontrei nele muitos nomes que me são familiares...
Continuem a produzir... o escrito fica, as palavras voam!
Cordialmente
NELLY NOVAES COELHO (carta) (professora e crítica literária). São Paulo.

Prezados amigos: a leitura de "Meia-Pataca: a terceira margem" nos fez recuar até os anos de 1948-49; esse tipo de resgate é muito importante para nossa memória cultural e mais ainda para quem como nós estava no mesmo barco e acompanhou a saga dos dois números. Reencontramos no livro amigos muito caros e próximos, Marques Rebelo, Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino Cesar, além de outros como Drummond, Santa Rosa, Rosário Fusco. Lemos de uma assentada, foi a continuação de nossa conversa, no Rio, com Lina e Marcelo. Vamos manter contacto. Um afetuoso abraço da Eglê e do Salim Miguel.
SALIM MIGUEL (escritor)
07.10.2007

Recebi o livro. Muito obrigada. E excelente!
Parabéns para vocês três e tambem para a Natália Tinoco pela capa. Uma beleza!
TERESINKA PEREIRA (Escritora, professora em Bluffton, EUA)
29.09.2007

Estimado Joaquim.
Com muita alegria recebi o belíssimo ensaio, seu novo trabalho, sobre a Meia-pataca. Excelente! Agradeço imensamente sua lembrança. Parabéns para os 3 que levaram essa empreitada até nós, os leitores.
Abraços da NEIDE SÁ (poeta, artista plástica). Rio de Janeiro. 11.11.2007.

Rio, 27.9.2007
Caro Joaquim Branco,
muito obrigado pelo envio da importante publicação Meia-Pataca: a terceira margem. Um abraço de seu amigo e leitor
ANTONIO CARLOS SECCHIN (professor, crítico, poeta, membro da ABL)

Rio, 2007-2008.
Querido Joaquim Branco, grata pelos altos momentos de prazer intelectual que "Meia-Pataca: a terceira margem" me causou. Trabalho admirável o do trio Branco - Fritiz - Roberto Júlio. [...]
STELLA LEONARDOS (escritora)

10/07/2007

VICTOR GIUDICE E EU


Quando eu trabalhava no Rio com o contista-desenhista-fotógrafo-etc. Victor Giudice, na década de 1980, ele quis fazer a capa de um livro meu sobre Arte Postal. Gostei muito da idéia, mas já havia encomendado a capa a outro grande ilustrador e não pude desfazer a encomenda. Então, num momento de humor, Victor fez esta cena teatral para me demover da promessa e depois bolou a charge em cima do fato. Vale a publicação, ainda que tardia.

10/05/2007

REVELAÇÃO DE POESIA


REVELAÇÃO DE POESIA

Mariele Furtado de Barros



BRANCO, Joaquim. O menino que procurava o reino da poesia. Cataguases: Instituto Francisca de Souza Peixoto, 2004-2005.



O livro O menino que procurava o reino da poesia, de Joaquim Branco, é seu primeiro trabalho dedicado à literatura infanto-juvenil. Contendo apenas vinte e seis páginas divididas em quatro partes correspondentes ao itinerário percorrido por Leonardo, personagem da estória dentro do ‘reino da poesia’, o autor descortina diante do leitor um mundo de sonhos, fantasias, conhecimentos e extrema beleza.
As ilustrações de Reinaldo Apolinário de Castro conferem à obra peculiar valor e beleza, o que reflete na leitura como asas para a imaginação.
Certamente o fato de haver produzido uma narrativa de rara criatividade e indiscutível conteúdo, conferiu ao autor merecidos elogios como os de Lina Tâmega: “O livro é circundado por uma linha didática que faz da leitura um ato agradável, curioso e provocante”. Como comenta a escritora, há no livro uma linha didática fascinante que transforma o ato de ler num momento prazeroso e interessante de incessantes descobertas.
Joaquim Branco desvenda a Leonardo o mundo da poesia, e no sonho do menino leva-o ao encontro de grandes poetas de nossa literatura, como no início, com Gregório de Matos, que lhe fala a respeito do que é ser poeta e da escola barroca.
A narrativa segue, e chegando Leo “Em terras das Minas Gerais” conhece Tomás Antônio Gonzaga. Este fala sobre o século XVIII e as características da literatura influente. Os comentários realizados pelo poeta enfatizam a mensagem cultural da narrativa, permeada de encantos.
Continuando, o menino vai de encontro a outros lugares, de “ares mais quentes” e bela paisagem à beira-mar, onde conhece Gonçalves Dias, que lhe fala do Romantismo, dos temas das composições poéticas e do engenho do criar. As explicações inseridas pelo autor na fala do poeta delineiam o perfil do movimento literário pertinente ao século XIX.
Leo segue, e, chegando ao Rio de Janeiro, conhece numa praça o poeta Cruz e Souza, que fala ao menino sobre o Simbolismo, a sugestão poética, a beleza das imagens metafóricas e a musicalidade dos versos. Leo encontra enfim o ‘Reino da Poesia’, dos sonhos, da beleza, do surrealismo.
Joaquim leva o leitor a penetrar e caminhar pelas vias do mundo da poesia com sutileza e competência. Rosângela Carvalho assim define sua leitura do livro: "Amei cada detalhe, cada palavra, cada explicação, cada nuance profunda de sua sensibilidade, cada detalhe histórico, cada personagem maravilhoso, cada seqüência de sua fragilidade em decantar o passado nas mãos do menino do futuro”.
Portanto, uma leitura prazerosa e essencial a todo leitor, que gosta ou não de literatura, já que desde a primeira linha do texto há vida pulsando nas entrelinhas da narrativa, despertando curiosidade e amor pela arte que revela o homem, a poesia.

* Mariele é acadêmica do 4º período de Letras nas Faculdades Integradas de Cataguases.

9/02/2007

HISTÓRIA DE CATAGUASES: Jacintho Passeado

Jacinto Marcos Passeado (1835-1930) foi o primeiro escrivão do antigo Cartório de Órfãos de Cataguases, patriarca da família Passeado cujos descendentes hoje pertencem às famílias Passeado, Miranda e Branco Ribeiro. O Cartório de Órfãos cuidava também da alforria de escravos no município. (foto Pereira da Costa, recuperada por Natália Tinoco; acervo Aquiles Branco).

8/31/2007

ASCÂNIO LOPES

Ascânio Lopes (1906-1929), poeta do Movimento Verde, em quadro do pintor Slotti. (coleção Joaquim Branco)

8/19/2007

"DIA DO JUÍZO", DE ROSÁRIO FUSCO



Dia do Juízo, para muitos, o melhor romance de Rosário Fusco. Capa de Darel, Editora José Olympio, 1961.

PRÓ-TEXTO




Não me abandonarei à fadiga, lançar-me-ei inteiramente na minha novela, ainda que tenha de me cortar no rosto (Franz Kafka)






Texto viu o mar de interjeições à sua frente, e suas letras pulsaram.

Rodeou então e deu de ombros.

Quando é que seria afinal um sujeito sem perspectivas, livre de tudo isso?

Texto queria ser ele mesmo. As palavras dentro do corpo, guardadas, mas os pensamentos dos outros só faziam usar o seu material. Abusando, quebrando palavras, cortando frases, eclipsando verbos, com essas idéias malucas na cabeça, sem construções próprias.

Achava que cada um deveria ter o seu texto, já que de metáforas e símbolos todo mundo podia dispor à vontade. Com isso, seu material estourava sempre, precisava de remendos. Fundia, então, novas locuções ou reconstruía velhas formas, nada adiantava. Texto servia aos outros.

Essas orações sovadas para antigos discurseiros o chateavam mais que tudo. Memorandos e cartas, também. A burocracia procurava utilizá-lo a todo momento.

As novidades literárias é que já eram em menor número: felizmente alguns se cansavam dele; eles queriam fazer filmes, televisão, rádio, novas fórmulas.

Texto ficava aflito ainda com a disposição da maioria em utilizá-lo em histórias intermináveis. Volumes maçudos numa prosa cansativa, com as mesmas palavras, ou estudos e ensaios em mero blá-blá-blá. Poesias aguadas, ficção repetitiva.

Texto sondou suas dúvidas, pensou mais uma vez e substantivou-se. Depois fez-se verbo, e do verbo à carne foi um pulo.

Era um homem. Sentia-se bem assim. Não tinha história, nem tempo. Pronomes e advérbios cresciam à sua frente.

Passava por eles calmamente e de todos os lados eles eram agora enormes edifícios.

8/18/2007

"DONA FLOR", DE FRANCISCO INÁCIO PEIXOTO



Publicado em 1940 pela Editora Pongetti, Dona Flor (contos) é o primeiro livro solo de Francisco Inácio Peixoto

8/17/2007

CURTIÇÕES DO SÉCULO XIX




Temas não muito encontrados na ficção do século XIX no Brasil – pederastia, lesbianismo, sexo, violência – vão ser alguns dos ingredientes do caldeirão de O cortiço, de Aluísio de Azevedo, edição da série “Bom Livro”, da Editora Ática.
Dos principais romances do chamado Naturalismo do fim do Oitocentos, O cortiço sacudiu pra valer o conservadorismo da Corte de Dom Pedro II – mais acostumada aos versos de Gonçalves de Magalhães e aos romances de Joaquim Manoel de Macedo –, e fez sucesso tanto de público quanto de crítica.
As cenas vividas pelos personagens do livro no Rio de Janeiro e todo o seu caldo grosso até hoje ressoam nos ouvidos da província natal de Aluísio de Azevedo, o Maranhão. O romance retrata o dia-a-dia das pessoas pobres, nas antigas habitações coletivas denominadas cortiços.
Convivendo ao lado do sobrado – onde residiam os donos do cortiço –, seus moradores são mostrados em toda a crueza possível da época, ressaltando o autor as oposições não só entre os personagens (que são vistos em pares, como acentua o crítico Rui Mourão) como também a “luta” Cortiço X Sobrado, que aparece na trama da estória.
Com este livro, publicado em 1890, Aluísio de Azevedo expressou o Naturalismo no Brasil e, colocando sua lente nas camadas mais desfavorecidas da população, levou de uma só vez toda uma massa de anônimos e oprimidos para a galeria de personagens da literatura brasileira.
A edição, muito bem cuidada, traz, além do texto integral, excelente apresentação do crítico Rui Mourão, uma parte final com material iconográfico com dados do autor e da época e também um suplemento de leitura com exercícios para estudantes de literatura.

(imagem de Aluísio de Azevedo - divulgação)

8/13/2007

PREFEITURA MUNICIPAL DE CATAGUASES


Fachada da Prefeitura Municipal de Cataguases, 2006. Foto Natália Tinoco.

"OS PÁSSAROS", DE ANÍSIO MEDEIROS


Painel em azulejos "Os pássaros", de Anísio Medeiros, na praça Santa Rita, Cataguases. Foto Natália Tinoco.

HOTEL VILLAS E CENTRO CULTURAL EVA NIL


Visão conjunta do Hotel Villas e do Centro Cultural Eva Nil (Cataguases). Foto Natália Tinoco.

CATAGUASES ANTIGA I


Confluência das avenidas Astolfo Dutra e Humberto Mauro.

CATAGUASES ANTIGA II


Vista panorâmica do povoado de Cataguases, no início do século XX.

ASTOLFO DUTRA NICÁCIO


Bronze em homenagem ao deputado Astolfo Dutra Nicácio, sete vezes presidente da Câmara Federal. Na av. Astolfo Dutra, em Cataguases.

8/11/2007

GRUPO DE TEATRO DA FIC


Alunos de Letras do Grupo Teatro FIC, em momento de ensaio, 2006. Foto Natália Tinoco.

GRUPO DE TEATRO DA FIC



Alunos de Letras da FIC que participaram da encenação teatral "Vozes da Guerra", do professor Joaquim Branco (2004)

7/31/2007

Grupo Teatro Difusão


Grupo de Teatro Difusão - 1967. Apresentação de "Carta aos Ases" em homenagem à Verde: Bebeto Bittencourt, Aurora Novarino, Carlinhos Vasconcelos, Cassé Bittencourt, Simão José Silva, Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, Messias dos Santos, e, sentado, Ivan Rocha.

Banco do Brasil em Cataguases (antigo)




Antigo prédio do Banco do Brasil, na Praça Gov. Valadares, Cataguases.

Poemas na Blogosfera - III

TIGER

Joaquim Branco

“Corre a tarde em minh'alma e conjecturo
que o tigre vocativo do meu verso
é um tigre de símbolos e sombras (...)"

Jorge Luis Borges, “O outro tigre” (in O fazedor)




Theda Bara me olha
com olhos de quem
mata, e diz:

Desata-me.

Decifrado, o olhar
que espreitara antes
agora fuzila firme
e em cheio
contra o vidro
de um pesadelo.

(Só Borges enfrentara
o tigre antes.)

Felina, garras e boca
em perfeita dentição
são arremessos para lá
de ameaçadores
mesmo sob uma irretocada
e espessa vigília.

.

7/21/2007

Ponte Metálica



Ponte metálica em Cataguases MG. Vista no fim da tarde. (foto Natália Tinoco)

Museu Chácara Dona Catarina



Vista noturna do Museu Chácara Dona Catarina, Cataguases MG. (foto Natália Tinoco)

Painel "Tiradentes"



Painel "Tiradentes" (em versão fotográfica), que substituiu o original de Candido Portinari, no salão principal da Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto, Cataguases.(foto Natália Tinoco)

Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto



Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto, ex-Colégio de Cataguases, antigo Ginásio Municipal de Cataguases. (foto Natália Tinoco)

7/10/2007

Lina Tâmega Peixoto



A poeta cataguasense Lina Tâmega Peixoto em sua residência (anos 1970). Editora da revista Meia-Pataca, poeta, autora de vários livros, entre eles Dialeto do corpo.

Francisco Marcelo Cabral



O poeta cataguasense Francisco Marcelo Cabral, em foto de Victor Giudice (década de 1970). Editor da revista Meia-Pataca, poeta, autor de vários livros, entre eles Livro dos poemas.

Celina Ferreira



A poeta cataguasense Celina Ferreira em sua residência no Rio de Janeiro. Autora de vários livros, entre eles Espelho convexo.

7/09/2007

Henrique Silveira



O poeta cataguasense Henrique Inácio da Silveira (1919-1943), em desenho a crayon de Iannini, 1943. Publicava seus textos no jornal Cataguases. Postumamente foi organizada por Joaquim Branco uma antologia com seus poemas denominada Poemas desta guerra.

Revista "Meia-Pataca" nº 2


Capa do 2º nº da revista literária Meia-Pataca, de 1949, Cataguases MG

Revista "Meia-Pataca" nº 1



Capa do 1º número da revista literária Meia-Pataca, editada por Lina Tâmega Peixoto, Francisco Marcelo Cabral, Francisco I.Peixoto Filho e Luciano P. Garcia, em 1948, em Cataguases.

6/30/2007

TOTEM nº 7



Totem, suplemento do jornal "Cataguases", editado nas décadas de 1970 e 80 por Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, P. J. Ribeiro, Márcia Carrano, Aquiles Branco, Carlos Sérgio Bittencourt, Fernando Abritta e outros. Capa em homenagem ao poeta Wlademir Dias-Pino.

Revista literária "Verde"



A Revista "Verde", editada pelo grupo Verde, de Cataguases MG, circulou de 1927 a 1929, e foi reeditada, em fac-símile, em 1967, pelo bibliófilo José Mindlin.

VIAJÍMICAS II (poemas na blogosfera)



Textos e imagens se ajustam para produzir o efeito procurado pelo poeta na criação do poema visual.

5/24/2007

NO CENTENÁRIO DE UM JORNAL

NO CENTENÁRIO DE UM JORNAL: 1906-2006

Joaquim Branco

Quem me incentivou um dia a escrever para o jornal Cataguases foi minha mãe. Ela me falava emocionada dos antigos redatores e cronistas da cidade, pessoas bem falantes, distintas, oradores do dia 7 de setembro nos palanques da Prefeitura, homens de terno, gravata, colarinho alto e colete.

Aquilo exercia em mim um certo fascínio, mas por outro lado dava um pouco de medo enfrentar a multidão na praça Santa Rita, com bandas de música, foguetório e gritos de alunos dos grupos escolares.

Ela que nunca publicara nada no jornal – talvez porque não houvesse sido convidada – ficava pelos cantos da casa, na janela, na mesa, sempre lendo e escrevendo uns rabiscos. À noite, às vezes ia ao meu quarto ler para mim e meus irmãos. Me lembro de pilhas de livros infantis que eu ficava moendo e remoendo na memória, enquanto ela os lia e relia um por um a meu pedido, sempre com prazer.

Por conta disso, quando menino conheci, nos anos 50, um outro tipo de redator que não aqueles sisudos do início do século, no entanto ele tinha algo daquela indumentária. Foi me apresentado pela minha avó. Era o Alzir Arruda, com um indefectível charuto na boca, paletó no ombro, suspensórios, um ar meio largado, passos soltos, bigodes, grandalhão, mas nada sério. Lembro-me muito bem dele a atravessar a rua Coronel Vieira, do antigo Bar Elite para a redação do Cataguases, onde hoje é a agência do Bradesco. Falastrão, cumprimentava e ria para todos, e eu me sentia naturalmente honrado com a deferência que fazia a mim, uma criança de dez anos. Por tudo isso, o admirava muito.

Naquele tempo, embora guardasse no fundo uma grande vontade, jamais imaginei que eu teria desde cedo a vida tão intimamente ligada ao Cataguases. Ali, a partir da década de 60, tenho escrito crônicas, poemas, artigos, editado suplementos – o “SLD”, “Totem”, “Cataguarte” e ultimamente o “Caderno C”, e mantive por quatro anos uma coluna de comentários sobre livros e autores – "Janelas de Leitura".

Os redatores (seria mais apropriado chamá-los editores) passavam e com cada um deles tive boa relação: Eli Barbosa, Galba Ferraz, Ércio de Souza, Marcos Spinola, Carlos Alberto, Cristina Quirino, Marcelo Lopes, Vera Maciel, Jorge Fábio e de novo o Marcos (desculpem a falta de algum nome). Não poderia me esquecer do Mário Francisco Ferreira, que comandava com arte e dedicação a oficina tipográfica.

Agora, me convidam para escrever sobre o Centenário do jornal. Cem anos de presença junto à comunidade. Atos oficiais, crônicas, poesia, necrológios, nascimentos, bodas, aniversários, a vida da população cataguasense semanalmente anotada, como num grande livro em que se conta a existência da cidade, mesmo com a omissão de muita coisa da história não-oficial: os subterrâneos do baixo mundo, os negócios furtivos, traições, amores escusos, fugas à noite etc.; mas, ainda assim, o que transpira dos fatos chega às suas páginas, ora na ficção informe, ora no grito do poema, ora no subliminar das matérias ou na entrelinha de um texto. Ali estiveram também os “verdes”, antes da aventura da revista, numa coluna semanal especialmente criada para eles pelo editor do jornal nos anos 20, o cronista Soares dos Santos.

Em todo esse tempo foi se fazendo uma história que precisa ser contada em livro, é tempo de se pensar nisso. Nesta data em que se comemora o centenário do jornal, seria oportuno não só registrar essa trajetória como também providenciar para o Cataguases uma estrutura administrativa adequada com a criação de uma Imprensa Municipal Oficial. Fica mais uma vez a idéia para ser aproveitada.

Parabéns, velho Cataguases! Enquanto isso, suas folhas balançam no tempo e ao vento, como se fossem a bandeira da imprensa – livre – que não pode ficar parada no ar.

(artigo refundido e ampliado para publicação na época do Centenário do Cataguases)

Cine-Teatro Recreio Cataguasense (hoje Edgar Cine-Teatro)

Cine Recreio(interior), hoje Edgar Cine-Teatro

Visita da Prof. Dra. Angélica Soares (UFRJ) à FIC

4/30/2007

AO MESTRE, COM ADMIRAÇÃO


Transcrição de uma crônica que escrevi para o jornal Cataguases, quando da inauguração, no CAIC, da Biblioteca José da Silva Gradim:


“Talvez a velhice e o medo enganem-me, mas suspeito que a espécie humana - a única - está por extinguir-se e que a Biblioteca permanecerá: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.”       Jorge Luis Borges, in Ficções



A noite prometia tudo, mas era destinada a poucos. Ou poucos puderam escolhê-la, porque no fundo de seu mistério havia um mestre e sua biblioteca. Estrelas tinham cunhado para si e para ele uma luz especial, própria.

O CAIC, colocado estrategicamente no morro, parecia uma esfinge à espera de todos, os convidados. Nos olhos da diretora havia um brilho novo: Filomena sorria e aguardava a hora de repartir o segredo de tanto tempo – a Biblioteca José da Silva Gradim.

Esperávamos todos e era como não se esperasse ninguém. Contudo, mais uma vez o mestre se fez presente e os primeiros faróis e motores vazaram o silêncio e o breu, para se transformar em números de amigos, professores e aficcionados da língua e da literatura luso-brasileira.

Pequenos grupos começaram a se esquentar da noite fria na conversa animada. Célio e Ana Maria, Dirce, professor Luís, Imaculada, Betinha e Pedro Mendes, Hélia, Maria Lúcia e Paulo Miranda, Vasco e Filomena e muitos outros ex-alunos, colegas e admiradores. O assunto rolava um só: o ineditismo e a raridade da homenagem. Finalmente, um evento cultural no sentido mais justo e profundo que se poderia imaginar em Cataguases.

Chegava a hora e subimos todos para o primeiro andar do CAIC. Corredores e portas levavam a uma nova ordem de coisas onde a clareza e o despojamento incitam ao estudo e aos objetivos. No último vão, enfim, a biblioteca. Na parede de frente, o pôster da página inteira do “Cataguases” ampliada, onde se traçava o perfil do professor. Dirce, emocionada, descerra a placa em bronze: Biblioteca Professor J. S. Gradim. Filomena marca uma vitória na cultura cataguasense.

Saudações e apresentações. Célio Lacerda custa a colocar a voz no lugar, mas as palavras são firmes, fiéis, quase perfeitas, daquelas que qualquer um de nós gostaria de assinar em baixo. O ambiente era gradiniano, em cor e forma, e em fundo também.

Lá fora o ar era tão frio que constrastava com o interior do prédio e de todos. As pessoas pareciam como que escolhidas para estar ali. No céu de junho, poucas estrelas arriscavam um brilho e lá dentro apenas um vulto parecia passear entre nós e os livros, lembrando os textos e tempos de Garret, Herculano, Machado e Camões – o professor Gradim e sua poderosa voz ressoando verbos, declinações, supinos e particípios do futuro, poemas e contos fantásticos.

4/21/2007

A INVASÃO DOS POEMAS

A INVASÃO DOS POEMAS

P. J. RIBEIRO




Os poemas, atenção senhores, estão entrando nas casas, invadindo tudo, quebrando vidraças, subindo rio acima, nesse instante estão vindo com muito mais força, ora vejam só, os diques são impotentes pra segurá-los, ó céus, façam alguma coisa, não é possível a coisa continuar desse jeito, reparem, algumas pessoas que antes nada percebiam agora já estão até reclamando da presença desses horríveis poemas, não dá, garanto que s´eu tivesse aqui comigo uma corda bem grossa os enforcaria um a um, vocês estão vendo o qu´eu tô vendo lá embaixo nesse instante?, eles perderam a vergonha, olhem, estão ocupando os quartos daquela casa na maior...e essa rua...como está apinhada de poemas! é, estamos perdidos mesmo, senhores, saibam de uma vez por todas que com poemas não tem jeito, principalmente com poemas desse jeito!

4/19/2007

QUEM LÊ BEM ESCREVE BEM



“Acho que a felicidade de um leitor está além da de um escritor,
pois o leitor não precisa experimentar aflição nem ansiedade:
seu negócio é simplesmente a felicidade.” (BORGES, 2000, p. 106)


O mestre argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), que exerce como poucos a magia da ficção sobre o leitor, deixando-o quase sempre magnetizado, consegue repetir a façanha também em suas palestras. Descobertas recentemente e reunidas em livro, as conversas que teve com estudantes da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, receberam o título geral de Esse ofício do verso, do qual me ocuparei especialmente em outro artigo.

As palavras da epígrafe, que transcrevo acima, pertencem a esse livro, e me vieram à lembrança quando examinava um manual sobre a técnica da leitura e seu aproveitamento para se atingir um bom nível de redação: Os degraus da leitura, das professoras Adriane Belluci B.Castro, Cinthia Maria R. Remach, Helena Aparecida G.Arantes e Léa Sílvia Braga de C.Sá, editado pela Edusc-Editora da Universidade do Sagrado Coração, de Bauru (SP).

De modo prático e objetivo, este livro ensina o leitor a penetrar em um texto por meio do reconhecimento de suas palavras-chave, da desmontagem de sua estrutura e outros recursos. São muitos os exercícios propostos nos capítulos em que se divide a obra, abrangendo muitos itens para um pequeno volume, como letras de música, poemas, contos e até textos não propriamente literários. Trata-se de um projeto que se situa mais no terreno da leitura e da escritura, visando ao ensino-aprendizagem de estudantes desta matéria hoje denominada Produção de Textos.

Voltando, no entanto, ao livro de Borges, pode-se observar que suas considerações viajam mais no terreno da arte como exercícios de uma mente privilegiada que conhece como ninguém os segredos da poesia e da criação.

Por isso, não estranhe, leitor-autor, se encontrar nas palestras borgianas esse arremate como uma flecha mortalmente dirigida a você:

“A pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever.” (IBID., p. 103)


Referências bibliográficas:

BORGES, Jorge Luis. Esse ofício do verso. Trad. José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
CASTRO Adriane Belucci B. et alii. Os degraus da leitura. Bauru: Edusc, 2000.

HORA & POEMA



Horas caem como letras que são fragmentos vividos. "A poesia sopra onde quer", como dizia o poeta.

SONHOS (?) DE KAFKA



“Envolve a criança nas dobras do teu manto, sonho sublime.”


Este é o último fragmento do livro Sonhos, de Franz Kafka, traduzido por Ricardo F. Henrique (Editora Iluminuras). Poucas palavras, verdadeiros touchestones em que o leitor pode se fartar de beleza e, ao mesmo tempo, se perder em suas variadas formas significativas.

Para conhecedores da obra deste grande escritor tcheco, que viveu na confluência do século XIX com o XX e assombrou o seu tempo (e por que não dizer o nosso?) com sua prodigiosa literatura, fica um pouco difícil pensar num título desses.

A obra de Kafka, considerada um autêntico pesadelo da e na modernidade, tornou-se a emblemática tradução de nossas perplexidades ante o mundo que se nos apresentava como indecifrável e absurdo pelas guerras e outras aberrações do ser humano.

Kafka, um jovem judeu intimidado pela arrogância paterna, pressionado no gueto de Praga, enredado pela burocracia de um trabalho mecânico demais para sua vocação de escritor, escreveu um relato que até hoje desafia o pensamento crítico e remete sua reflexão para o futuro.

O processo, O castelo, A metamorfose, América são livros cuja linguagem é até acessível ao público, mas o pensamento que ela conduz, a tortuosidade do dilema que propõe, a densa névoa com que o autor reveste as palavras podem dificultar os caminhos do leitor.

Mas nada disso embaça a beleza do seu texto erguido em cima de uma simplicidade ao mesmo tempo poética e enigmática.

Os fragmentos desta coletânea denominada Sonhos foram recolhidos em cartas a suas namoradas Felice e Milena e ao amigo Max Brod e ainda em páginas soltas de seu diário. E se não constituem propriamente sonhos de uma pessoa comum são viagens numa nave encantada que só alguns poucos como Kafka podem (e sabem) pilotar.

3/29/2007

FRICÇÕES TEXTUAIS

O LENHADOR DA FLORESTA

Joaquim Branco


Krung levantou mais cedo que de costume, pegou o machado e rumou para a floresta. Na caminhada lembrou-se de que tivera um pesadelo com o Cedro Central durante toda a noite.

O Cedro era uma árvore gigante cujo tronco desafiava os lenhadores da região. Diziam ser uma árvore de épocas imemoriais, devido ao seu tamanho incomum. Aos olhos que o viram em muitos anos, impressionara a todos.

Mas Krung nunca recuara diante de um obstáculo. Então, olhou para a árvore e, como se medisse cara a cara um contendor, começou o trabalho.

As primeiras machadadas, o tronco aceitou bem. Depois foram tantas e tão fortes que os ouvidos de quem passasse não poderiam distinguir o que era ímpeto do que se tornara cansaço do lenhador. Lascas de madeira passavam rentes ao corpo de Krung, batendo em seu rosto ou cravando-lhe na pele.

Na dificuldade de conseguir algum resultado, Krung foi ficando na floresta. Aos poucos, as fendas que abria na árvore não o animavam mais. Eram feridas que apareciam, porém, cicatrizadas na manhã seguinte.

Ao fim de cada dia de trabalho, encostava o machado, comia alguns frutos pendentes de árvores e dormia. Um sono cheio de folhas secas e ventos, quando muito um barulhento bater de asas desconhecidas.

Finalmente um dia Krung resolveu medir a espessura do magnífico tronco. Arrancou uma boa quantidade de cipó das árvores vizinhas e começou a caminhar em volta do Cedro, envolvendo-o com o cipó.

Nos primeiros três dias ficou apreensivo para chegar ao ponto de onde saíra. Mas a caminhada foi se tornando longa demais. Eram semanas e meses andando em círculo, e naquela altura do seu trabalho Krung acabou esquecendo o que estivera fazendo ali.
Só se lembrava agora de seu nome: Krun ou Krr. E também de outra coisa: de que um dia fora o lenhador número 1 de toda a floresta.

POEMAS NA BLOGOSFERA II



Poema visual construído a partir da figura de um ovo pressionado de dentro para fora e de fora para dentro por forças diferentes e opostas. Povoema: o povo, o poema e o ovo.

3/23/2007

Pesquisa em Língua Portuguesa



Maressa, Joaquim, Luiz Antônio e Carolina pesquisam sobre Língua Portuguesa em escolas de Cataguases.