7/21/2019

CIRCO DE HORRORES - DEFINIÇÕES PARA AÇÕES INTEMPESTIVAS



CIRCO DE HORRORES
DEFINIÇÕES PARA AÇÕES INTEMPESTIVAS

Joaquim Branco

Uma montanha de besteiras
Um caminhão de asneiras
Um monte de bobeiras

Um saco de burrices
Um trem de asnices
Uma tonelada de sandices

Um tratado de horrores
Uma colcha de temores
Um atestado de bolores

19-07-2019

7/15/2019

UM DISCURSO ATRAVÉS DOS TEMPOS




(Imagem de anarquista.net)


Receber um livro de presente é um fato por demais agradável. Pois foi o que os Correios trouxeram para mim enviado pela professora Maria Inez Caixeta. Uma surpresa e tanto, pois não conhecia o autor deste pequeno volume intitulado “Discurso da servidão voluntária” (São Paulo: Editora Martin Claret, edição bilingue, 2009). O francês Étionne de la Boétie o escreveu aos 18 anos, em pleno século XVI, no Renascimento, portanto o livro me chega como leitor com mais de quatro séculos de atraso.
Mas importa mais a atualidade de seu tema e a felicidade de sua abordagem feita numa linguagem fluida e acessível como não é tão comum aos livros de filosofia. O livro fala da liberdade, dos tiranos e da servidão e especialmente dos segredos de como se realiza a aceitação de se ser um servo, e mais do que isso de como se pode resistir a essa opressão, sem o uso da violência.
Contemporâneo de Montaigne e seu grande amigo, La Boétie participou do movimento Humanista do Quinhentismo, como Erasmo de Roterdã, Maquiavel e Thomas More. Nasceu em 1513, na França, de família rica e teve seus estudos superiores na Universidade de Orleãs.
Nas suas primeiras páginas, o discurso de Boétie se espanta de como “um milhão de homens” se rendem a um jugo, “enfeitiçado somente pelo nome de quem não deveriam temer, pois ele é um só, nem amar, pois é desumano e cruel com todos” (p. 24)
E em algumas páginas à frente: “Não é preciso nem derrubar esse tirano. Ele se destrói sozinho, se o país não consentir com sua servidão”. (p. 28) Mas como fazer isso?, pode-se perguntar, e o autor responde: “...basta não lhes dar nada e não lhes obedecer, sem combatê-los ou atacá-los, e eles ficam nus e são derrotados, e não são mais nada, assim como o ramo que, não tendo mais sumo nem alimento em sua raiz, seca e morre.” (p. 29)
La Boétie, a seguir, faz a apologia da liberdade e afirma que, com a sua perda, “todos os males sobrevêm e sem ela todos outros bens, corrompidos pela servidão, perdem inteiramente o gosto e o sabor”. (p. 29)
Aquele que nos oprime, no fundo, se assemelha a nós, diferindo apenas pelos meios que nós mesmos lhe conferimos para nos escravizar”. E acrescenta: “Como se atrevem a atacar-vos, se não tivesse vossa conivência.” (p. 30)
Divide os tiranos em três categorias: os que ascendem pelo voto, pela força das armas ou pela hereditariedade. Os primeiros veem o povo como touros, que precisam ser domados; os segundos como presas; e os sucessores dos tronos, como escravos.
O autor chega enfim ao centro de sua tese: o hábito como razão da servidão voluntária. O exemplo dos cavalos é ilustrativo. Quando “amansados”, a princípio se revoltam, mordem os freios, mas aos poucos aceitam passivamente os arreios e a montaria. Os homens de certo modo são parecidos, pensam que devem aguentar o sofrimento, mas alguns não se conformam e anseiam pela liberdade.
Por outro lado, “o povo ignorante [...] entrega-se com paixão ao prazer que não pode receber honestamente e é insensível à dor que não pode suportar sem se aviltar”. (p. 48). E todos os meios utilizados para manter a população dominada “só é utilizada por eles [os tiranos] entre o povo miúdo e grosseiro”. (p. 53)
Vale transcrever as palavras quase finais do livro: “Certamente o tirano nunca ama e nunca é amado. A amizade é um sentimento sagrado, uma coisa santa. Só existe entre pessoas de bem. [...] Quando os maus se reúnem há uma conspiração, não uma sociedade. Não se amam, mas se temem. Não são amigos, mas cúmplices.” (p. 61)

(15-07-2019)