3/29/2007

FRICÇÕES TEXTUAIS

O LENHADOR DA FLORESTA

Joaquim Branco


Krung levantou mais cedo que de costume, pegou o machado e rumou para a floresta. Na caminhada lembrou-se de que tivera um pesadelo com o Cedro Central durante toda a noite.

O Cedro era uma árvore gigante cujo tronco desafiava os lenhadores da região. Diziam ser uma árvore de épocas imemoriais, devido ao seu tamanho incomum. Aos olhos que o viram em muitos anos, impressionara a todos.

Mas Krung nunca recuara diante de um obstáculo. Então, olhou para a árvore e, como se medisse cara a cara um contendor, começou o trabalho.

As primeiras machadadas, o tronco aceitou bem. Depois foram tantas e tão fortes que os ouvidos de quem passasse não poderiam distinguir o que era ímpeto do que se tornara cansaço do lenhador. Lascas de madeira passavam rentes ao corpo de Krung, batendo em seu rosto ou cravando-lhe na pele.

Na dificuldade de conseguir algum resultado, Krung foi ficando na floresta. Aos poucos, as fendas que abria na árvore não o animavam mais. Eram feridas que apareciam, porém, cicatrizadas na manhã seguinte.

Ao fim de cada dia de trabalho, encostava o machado, comia alguns frutos pendentes de árvores e dormia. Um sono cheio de folhas secas e ventos, quando muito um barulhento bater de asas desconhecidas.

Finalmente um dia Krung resolveu medir a espessura do magnífico tronco. Arrancou uma boa quantidade de cipó das árvores vizinhas e começou a caminhar em volta do Cedro, envolvendo-o com o cipó.

Nos primeiros três dias ficou apreensivo para chegar ao ponto de onde saíra. Mas a caminhada foi se tornando longa demais. Eram semanas e meses andando em círculo, e naquela altura do seu trabalho Krung acabou esquecendo o que estivera fazendo ali.
Só se lembrava agora de seu nome: Krun ou Krr. E também de outra coisa: de que um dia fora o lenhador número 1 de toda a floresta.

POEMAS NA BLOGOSFERA II



Poema visual construído a partir da figura de um ovo pressionado de dentro para fora e de fora para dentro por forças diferentes e opostas. Povoema: o povo, o poema e o ovo.

3/23/2007

3/22/2007

Teatro e literatura



Grupo de teatro do curso de Letras da FIC

Professores de Letras



FIC - Grupo de professores do Departamento de Letras

Encontro Brasil-Portugal



FIC - Diretor Alcino Antonucci e professores Vânia (Universidade de Lisboa) e Joaquim (FIC)

Estudando na maturidade



FIC - Alunos e professores do curso FAMA em intervalo de aulas

Encontro no intervalo das aulas



FIC - Cantina

Crianças têm sua vez



FIC - Sala do Colégio de Aplicação (foto Natália Tinoco)

Paisagem fora das salas




FIC - Vista parcial dos quiosques (foto Natália Tinoco)

Visão externa da FIC




Vista do prédio das Faculdades Integradas de Cataguases (foto Natália Tinoco)

Folhas secas no outono da FIC



FIC - Vista externa (foto Natália Tinoco)

3/21/2007

Pós...o quê?

PÓS... O QUÊ?

Joaquim Branco

joaquimb@gmail.com (e-mail)
www.joaquimbranco.cjb.net (site)
joaquimbranco.blogspot.com (blog)



Quando o estudante termina o seu curso de nível superior vê-se – como na época do vestibular – diante de novos desafios. É a pós-graduação, que vai contribuir para o seu aprimoramento frente a um mundo globalizado que exige mais e mais competência.

A pós-graduação compreende basicamente quatro etapas: a especialização, o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado ou pós-doc como é conhecido popularmente.

Essa série que define um aprofundamento cultural e profissional, representa uma espécie de funil em que os conhecimentos vão-se refinando até se chegar a um grau cada vez mais elevado na área específica escolhida pelo estudioso.

Regra geral, no caso do magistério, cumpre-se o primeiro estágio – a especialização – e raramente se alcança o doutorado ou o pós-doc, que são oferecidos apenas nos grandes centros e em poucas vagas.

Hoje, existem cursos de especialização nas modalidades presencial ou à distância – simplificadamente chamados “pós-graduação” – em muitas cidades de porte pequeno e médio espalhadas pelo país. O que os diferencia, no entanto, é a faculdade que os organiza e mantém, que deve ser escolhida cuidadosamente pela tradição de bons e continuados serviços na região, pelos professores que irão ministrar as aulas e pelo reconhecimento perante os órgãos do governo responsáveis pelo ensino superior.

A propósito, as Faculdades Integradas de Cataguases, por meio de seu departamento de Letras, estão se preparando para iniciar uma nova especialização em Letras (língua e literatura) a partir do dia 30 de março próximo. Trata-se de um curso com amplitude de matérias, pois vai abranger não só língua, mas também literaturas, e projetado para durar cerca de doze meses. Saibam os interessados que, mesmo os que não são formados em Letras, mas em outras áreas de Humanas (como jornalismo, pedagogia, história etc.), poderão se inscrever, e que ainda há tempo para isso.

Esta pós-graduação em Letras (especialização) é uma boa oportunidade para as pessoas que moram em Cataguases e em toda a nossa região, que não precisarão se deslocar para cidades mais distantes ou viajar grandes distâncias para freqüentar as aulas. Para inscrições e maiores informações, liguem para a secretaria da FIC (telefone 3421-3109).

3/11/2007

NA GALÁXIA DE GUTEMBERG

NA GALÁXIA DE GUTEMBERG

Joaquim Branco

Sempre gostei de ler vários livros ao mesmo tempo, e já pude observar que o hábito não constitui fato incomum entre as pessoas.

Tem a desvantagem de atrasar a leitura individual, mas traz a sensação de se poder passar de um texto para o outro sem se abandonar totalmente o anterior.

No momento, enquanto termino Bartleby o escrivão, de Hermann Melville, vou bem adiantado em O poder das biblioteca e em A revolução da cultura impressa.

Me espanto com a incrível modernidade (publicado em meados do século XIX) de Melville, e vejo o quanto o criador de Moby Dick antecipou o “estranho” e o “fantástico” com a estória de um copista de cartório que trilhou os caminhos da rotina até se incorporar intrinsecamente a ela. É uma novela simples e pesada ao mesmo tempo, essa Bartleby o escrivão, com ótimo prólogo de Jorge Luis Borges, que a Record editou há tempos e agora deveria reeditar.

Fascinado pelos mistérios da Biblioteca de Alexandria, penetrei nos dados de O poder das bibliotecas, artigos de pesquisadores de renome reunidos por Marc Baratin e Christian Jacob para a Editora UFRJ. São as memórias dos livros no Ocidente, tema por demais amplo que mostra a “acumulação infinita” que norteava a política de Alexandria, esmiúça materiais como o papiro e o pergaminho – ancestrais do papel – e faz outras abordagens. A coletânea revela um mundo de conhecimentos em que o livro aparece como figura central.

O terceiro exemplar em exame é A revolução da cultura impressa, de Elizabeth L.Eisenstein, lançamento da Ática, que historia a invenção da imprensa e suas implicações, desde os primórdios na Europa. Chamada ora de “arte divina” (do clero e do patriciado), ora de “amiga do pobre”, a imprensa, principalmente após a invenção dos tipos móveis de Gutemberg, revolucionou a comunicação, alterando conceitos, profissões, atitudes e mercados. A autora comenta todos os aspectos, inclusive o econômico, desta invenção, que aos poucos foi substituindo a função dos antigos escribas.

É assim que o prazer da leitura compartilhada de mais de um livro amplia o sentido de viagem que a imaginação de poetas e ficcionistas pode oferecer. E a rota que se está seguindo costuma, de repente, mudar, e surgir magicamente uma outra paisagem que nem estava nos planos do leitor.