2/27/2010

SOBRE CLARICE LISPECTOR



LIVRO DE CABECEIRA

Joaquim Branco

Com bela e sugestiva capa (foto de Erico Veríssimo), a Editora Rocco lançou, no final de 2009, a coletânea Clarice na cabeceira (256 páginas, R$32,00), organizada por Teresa Monteiro.
O lançamento reúne contos escolhidos por personalidades do mundo da literatura e do entretenimento como Rubem Fonseca, Maria Betânia, Adriana Lisboa, Carla Camurati, José Castelo, Fernanda Torres, Lya Luft, Letícia Spiller e outros, e mostra como atualmente é conhecida a obra de Clarice Lispector (1920-1977).
Autora de romances, novelas, crônicas e contos, esta brasileira nascida na Ucrânia (veio para o nosso país com um ano de idade), radicou-se primeiramente com a família em Recife e depois no Rio de Janeiro. Rodou mundo com seu marido diplomata, mas após a separação, fixou residência no Rio, onde morreu aos 57 anos.
Publicou seu primeiro livro – Perto do coração selvagem – em 1944, uma surpreendente novela que ganhou o prêmio Graça Aranha e assustou grande parte da crítica. Alguns marcos literários em sua carreira foram Laços de família (1960), A maçã no escuro (1961), A paixão segundo G.H. (1964), Felicidade clandestina (1971) e A hora da estrela (1977), este último transformado em filme.
Seus romances quase sempre narram a aventura espiritual de um personagem feminino em busca de si mesmo e do entendimento com as pessoas, num malabarismo de pensamento e de fino trato da língua que a colocam entre as maiores autoras intimistas da história da literatura brasileira e mundial.
Acredito, no entanto, que foram suas crônicas e contos que a fizeram chegar mais perto do público e a tornaram conhecida hoje por um grande número de leitores, o que é notável para uma ficcionista considerada difícil, introspectiva e possuidora de um refinado manejo dos torneios frasais.
Em suas crônicas, tira do cotidiano um lado impalpável, uma surpresa a cada esquina (leia-se: frase), e ao mesmo tempo um pensamento ligado às coisas mínimas de nossa gente simples.
Nos contos, ressalta a estória bem urdida, a surpresa, a novidade, aquela pedrinha que o leitor não estava esperando e salta à sua frente, nunca, porém, se descuidando da linguagem em suas mais arrojadas formas. Contos como “Felicidade clandestina”, “Ruído de passos”, “O crime do professor de matemática”, “O ovo e a galinha”, “Os desastres de Sofia” – para citar só uns poucos – são inesquecíveis marcos da narrativa curta que todo bom leitor deve obrigatoriamente conhecer.
Colho em Água viva, publicado em 1973, na fala de um personagem, algo que representa uma máxima do pensamento clariceano, e que fecha magnificamente estas considerações: “Estou cansada. Meu cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo” (p. 72)

(a imagem acima é parte da foto da capa. Autor da foto: Erico Veríssimo)