3/23/2014

QUINTAIS PELO MUNDO


– Como é bom
possuir
quintais por todo o mundo!,

dizes com olhos ávidos
a contemplar terras e mares
deste planeta azul.

Estendes tentáculos
por balas
canhões
e naves
que avermelham oráculos
e ameaçam
penínsulas
ilhas
desertos
em Cabul, na Mesopotâmia ou alhures.
E de que vale tudo isso
se se voltarem contra
na ânsia de mortal vingança?

Esses quintais são terras alheias,
ninhos de aves que podem se espantar
e virar seus bicos de metal e lacre
mesmo contra as fortes ameias
de um castelo de metáforas de aço.

Queres todos os quintais
do mundo
onde implantar
royalties, cifras e lucros,
como fez Roma
um dia
dona do sol que nunca se punha
no rico império que de si supunha.

06-03-2014



3/20/2014

EQUINÓCIO DO OUTONO



Com imagens de árvores
sem folhas
o Google comemora o equinócio
de outono.

Hoje é o primeiro dia do outono
quando os dias e as noites
partem-se igualmente
e começa a primavera
no hemisfério norte.

Hoje acontece o instante
em que o Sol corta em dois
o plano do equador celeste.

Cá as folhas não caem como as de lá
e lá os pássaros não gorjeiam como os de cá.
(Ah! Gonçalves Dias!!!)

Enquanto o hemisfério sul
se prepara para um ameno
inverno
no norte, por certo, o verão virá
com muito menos
sol.

20-03-2014

(foto Natália Tinoco)

3/08/2014

RECEITA FACE-TO-FACE'BOOK
















Adicionar é somar algo (ou alguém)
a alguém (ou alguma coisa).

Depois precisa-se misturar, esquentar
e mexer ou bater bem.

É essencial provar para ver
se ficou boa a mistura.

Em seguida, aconselha-se soprar
e mexer para não queimar a língua.
Enfim, deve-se engolir com a devida cautela.
Mesmo assim, pode fazer mal.

Em caso de dúvida, consultar imediatamente
um especialista.

3/02/2014

PEQUENA HISTÓRIA DO LIVRO

A história do livro e das bibliotecas se confunde com a história da liberdade do homem. É um longo relato que precisaria de muitos volumes para ser contado. No entanto Luciano Canfora, em pouco mais de 100 páginas conseguiu reunir em 8 capítulos uma série de informações preciosas que validam inteiramente aquele surrado provérbio dos “pequenos frascos que contêm...etc. etc.”.

Livro e liberdade (Ateliê Editorial e Casa da Palavra, 2002, 104 p.) nos dá, após a leitura, a sensação de prazer que toda pesquisa deveria levar ao leitor, além do conhecimento.

Recorda-se com ele a obsessão de Dom Quixote em se envolver com os livros de cavalaria e depois em aventuras, influenciado pela “projeção do mundo livresco sobre o mundo real” (p. 19); as fogueiras e mortes na época da Inquisição; os antigos textos de Luciano de Samósata que contam o caso da “epidemia” que tomou conta dos espectadores após a apresentação da peça Andrômeda, por terem-na fixado demais em suas mentes; a descoberta da verdadeira identidade de Shakespeare por meio do exame de um exemplar da Bíblia deixado pelo bardo inglês e que chegou às mãos de seus biógrafos.

Mas o capítulo mais interessante é o que narra fatos relativos ao Iluminismo francês, e às figuras dos enciclopedistas Diderot e D´Alembert. Deliciamo-nos quando o autor invoca acontecimentos da época da Encyclopédie, em especial alguns que envolveram sua confecção e publicação.

O personagem de Cervantes, as perseguições a Galileu e a Giordano Bruno, o Ancien Régime e a Revolução, a censura, a queima de livros e muitos outros estão nas páginas deste livro que vai interessar ao público em geral.
Há um capítulo em que o escritor Bertolt Brecht, em poema escrito no exílio, fala da raiva de um autor ao saber que os nazistas se ‘esqueceram’ de suas obras na fogueira de livros promovida por Hitler em 1933:

“Corre à escrivaninha, cheio de ira, e escreve aos poderosos uma carta.
Queimem-me!, rabiscou, queimem-me!
Não me fizessem semelhante ofensa!
Não me deixassem de fora! Pois a verdade, eu não a disse sempre nos meus livros?
E agora me tratam com se fosse um mentiroso! Ordeno-lhes! Queimem-me!” (p. 61)