6/15/2012

JOYCE E O "BLOOMSDAY"






Nos bares e cafeterias de Paris, nos pubs da Irlanda, nos cursos de literatura da América (incluíndo-se o Brasil), nas associações literárias de Londres, comemora-se, no dia 16 de junho, o “Bloomsday”, o dia de Bloom, personagem do romance Ulisses, do escritor James Joyce. Este texto é uma homenagem ao genial autor.

Parece estranho associar a obra do maior escritor irlandês do século XX – James Joyce (1882-1941) – a uma leitura mais acessível ao grande público. Mas, podem crer, isso já aconteceu para o leitor brasileiro com a republicação de Ulisses (Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 888 páginas, R$79,90), devido à magistral tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro.
Considerado por muitos críticos como obra máxima da modernidade, o romance Ulisses há anos intriga os leitores pela impermeabilidade de seu texto complexo, cheio de armadilhas e códigos cifrados, de collages e cortes abruptos, de associações rápidas e inusitadas e de um fraseado multilingue.
Sua primeira tradução no Brasil, feita pelo competente filólogo Antônio Houaiss em 1966, só fez aumentar sua fama de livro difícil, cuja arquitetura permanecia dificultosa mesmo para um leitor sofisticado.
O trabalho da professora Bernardina, porém, trouxe uma surpreendente fluência para o texto joyceano, além de uma simplicidade que reedita o Joyce bandalho e anedótico que todos nós gostaríamos de ler e que ficou elíptico no eruditismo e em pequenas diferenças em relação à primeira tradução.
A revista Veja, em comentário do resenhista Jerônimo Teixeira, coteja alguns fragmentos das duas traduções, das quais transcrevemos um em que Houaiss não percebeu a esperteza do expediente utilizado pela personagem Milly, filha do protagonista Leopold Bloom. Vejam como a mesma frase ganha outra conotação nas mãos da professora Bernardina:

“O dia em que a peguei na rua pintando as faces para fazê-las coradas.” (A. Houaiss)
“O dia em que a peguei beliscando as bochechas para torná-las vermelhas.” (Bernardina)

Há fragmentos em que um realismo muito duro – tipicamente joyceano – se sobrepõe até à escrita cortada e pontilhada de enigmas criada por Joyce:

“– Você conhece aquela moça ruiva, a Lily Carlisle?
– Conheço.
– Estava aos beijos com ele na noite passada no quebra-mar. O pai é podre de rico.
– Ela está de barriga?
– É melhor perguntar ao Seymour.
– Seymour um maldito oficial! – disse Mulligan.
Ele acenou com a cabeça em sinal de assentimento enquanto tirava a calça e se levantava, dizendo corriqueiramente:
– As ruivas copulam como cabras.” (p. 24)

Criado – a partir do título – com um elo com a Odisseia de Homero, Ulisses é uma trama moderna em que um trio de personagens (Leopold e Molly Bloom e Stephen Dedalus) se move tendo como pano de fundo a cidade de Dublin, na Irlanda, em apenas um dia (16 de junho de 1904) na vida deles. Posteriormente, este dia ficou consagrado como o Bloomsday (Dia de Bloom), que hoje é comemorado com festejos em todo o mundo literário.
Habilitem-se, pois, leitores. Chegou a sua vez de conhecer a obra mais desafiadora do século que passou, escrita com a marca do talento inconfundível de James Joyce.

6/12/2012

NA CAIXA DE MENSAGENS... ÀS 16:43 (“short-net-story”)



– td bem?
– td e vc?
– graças a Deus, td.
– o que manda?
– ñ, eu ñ mando nada.
– de vez em quando vc aparece na minha caixa de mensagens...
– fazendo...
– ... mistério.
– meu pai! fala sério.
– ??
– te atrapalho...?
– ñ, estou apenas querendo saber o quê.
– vc disse que eu apareço em sua caixa de mensagem, fiquei preocupada.
– ñ se preocupe, vc já me perguntou se estava td bem, respondi, coisas de internet, linha cruzada.
– !!
– achei interessante esta conversa como diálogo de personagens.
– tenho que ter muito cuidado com minha escrita, né?
– ??
– mas, referente à caixa de mensagens, o que vc diz?
– estou pensando em escrever um conto com este diálogo de 2 pessoas que não se conhecem.
– adorei, vai em frente, vai arrasar, ñ nos conhecemos mas papai do céu conhece cada um de nós, oportunidade ñ irá faltar, um dia nos conhecemos.
– este material tá ficando bom.
– suas mãos serão abençoadas sempre.
– (?) posso utilizar sua fala? vou encaixar como um texto sem narração, apenas diálogos, sem citar nomes, é claro.
– ok, boa sorte, mocinho, vai bombar.
– depois leia o resultado no meu blog.
– sim, como faço, e quando vai ser?
– talvez ainda hoje.
– sou meio careta na net ainda.
– vou caprichar.
– ah! disso eu ñ tenho dúvida, quando vai ser?
– hoje à noite.
– e o que eu faço, hein? qual o meu papel?
– será o seu primeiro papel como protagonista de uma história.
– sei não, hein? estranho, ñ entendo nada, verdade.
– aviso pelo facebook, no local das suas mensagens.
– uma atriz virtual, né?
– isso, só que vc mesma criou o seu diálogo.
– tá certo, aguardo.
– e geralmente as atrizes só decoram o texto alheio...
– tô dizendo que ñ entendo nada kkkkkkkkkkk.
– vai ser divertido.
– vc ñ vai citar meu nome, né?
– claro que ñ, mas vc ñ disse nada de mais.
– como funciona isso? sou iniciante.
– é novo, inventei agora.
– e minha imagem, hein?
– ñ haverá imagem, é um conto.
– tô com medo.
– então leia o meu perfil.
– vc ficou chateado comigo...?
– ñ fiquei, vc tem razão de ter medo.
– vc me entende.
– entendo sim.
– mas td bem, manda ver.
– já estou preparando o texto.
– obrigada por me entender.
– vai sair um pouco "glamourizado", é natural na ficção.
– muito bacana seu talento, viu?
– obrigado.
– fique em paz.
– vc também.
– um bom final de tarde.
– pra todos nós, que Deus nos abençoe.
– eu ia dizer isso, fique dito.
– kkkkkkkkkkkkkk
– ehehehehehehehe
– tudo bem, né?
– tudo, espero que ñ fique preocupada.
– vou confiar em vc pq senti no meu coração que vc é uma pessoa boa.
– poxa, ainda tá temerosa...
– ñ é isso, ñ me entenda mal, por favor.
– vc ñ fez nada de mau.
– ok mestre.
– ok atriz.
– rsrsrs
– vai dar tudo certo.
– eu te aluguei mesmo, né?
– ñ me alugou ñ. Eu dei corda porque precisava de um tema para escrever.
– e achou.
– pois é.
– espero ter te ajudado a ter algumas ideias diferenciadas.
– vc nem imagina...
– dá licença, tenho que sair, bjs e se cuida, viu? bom trabalho.
– bye!
– até mais!

6/10/2012

COSTUMES DA CORTE NO 'ANTIGO REGIME'





A época áurea do "Ancien Régime" (Antigo Regime) constitui o período que vai aproximadamente do século XV ao XVIII, quando floresceram as monarquias na Europa e do qual tivemos apenas um apagado finalzinho com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808.
O apogeu desse Regime se processou principalmente com o fausto dos salões nos palácios da França, e graças a um componente especial que foi a Corte, com sua estrutura de funcionamento em que sobressaíam as regras de etiqueta e os princípios de honra.
A Corte – um espaço hoje inexistente – juntava o público e o privado em torno do rei, sua família e os senhores de maior poder. Seu aprimoramento ‘coincide’ com o fim do feudalismo e prenuncia o Estado moderno fortalecido pelo poder real concentrado.
Foi só depois de muitas lutas, mudanças territoriais, deposições, casamentos por interesse e assassinatos é que surgiram as monarquias europeias, oriundas da junção de pequenos reinos. Nesse ambiente cortesão, nasceu então a necessidade da existência de um conjunto de regras e princípios que se pode chamar de etiqueta, uma espécie de ritual que regulava a vida na Corte.
Desse modo, a “busca de uma vida bela” e luxuosa constituiu o objetivo de um dos primeiros e maiores reinos – o do duque de Borgonha –, em torno do qual desfilava a nobreza da Corte. Saídos da lida dura das guerras, esses nobres passaram a uma vida ‘difícil’ porque sedentária, e precisavam dominar a sua violência aprendida e desenvolvida nas contínuas guerras. A etiqueta apareceu então como uma necessidade social para refrear os impulsos, enfatizar sentimentos e facilitar o convívio.
Interessantes informações como essas estão no pequeno volume "A etiqueta no Antigo Regime", de Renato Janine Ribeiro (Editora Moderna, 63 páginas), do qual extraímos algumas curiosidades.
O capítulo intitulado “As boas maneiras” conta que no século XI uma princesa de Bizâncio casou-se com o Doge de Gênova e trouxe em sua bagagem um garfo, pois sabia que na Europa este instrumento era desconhecido. No Ocidente só se usava a faca com que os homens cortavam carne, palitavam os dentes ou portavam como arma. A princesa oriental com o seu garfo escandalizou a Corte, sendo até acusada por um sacerdote de ímpia, provavelmente devido às semelhanças do instrumento com o tridente do diabo.
Naquela época, o Oriente era mais civilizado que o Ocidente, que só começou a manejar os talheres com o Renascimento, a partir do século XV.
Assim como o garfo, o uso do lenço foi outra prática que se iniciou na Renascença, e só se tornou mais difundida na época de Luís XIV, o rei-sol. Ensinava-se aos nobres que deviam usar sempre o lenço, lembrando que os camponeses assoavam o nariz no boné ou na roupa. O autor cita Giovanni della Casa: “Tu não deves, depois de te assoares, abrir o lenço e olhar o que este contém, como se pérolas ou rubis te houvessem descido do cérebro pelo nariz”.
A palavra etiqueta quer dizer “rótulo”, mas originariamente significava um “escrito num saco de processo”, para identificar, nos tribunais, os documentos de um processo. Depois passou a significar qualquer papel colocado em um objeto para indicar a sua natureza. Só mais tarde, no “Ancien Régime”, teve a acepção de conjunto de normas de comportamento.
Na França, a rainha Maria Antonieta ficou célebre por uma reverência com a cabeça e um olhar especial para colocar os nobres em seus devidos lugares como forma de etiqueta. Portanto, a etiqueta fazia parte do jogo social, por estabelecer hierarquias, normas e atitudes.
Com a Revolução Francesa, no final do Oitocentos, e a consequente subida da burguesia ao poder, a etiqueta, como comportamento leve e natural, desapareceu e com ela a vida prazerosa no Antigo Regime, passando a ser posteriormente e cada vez mais apenas um instrumento de competição de classes e de ascensão social.