2/21/2016

PEQUENOS GRANDES LIVROS



Os pequenos livros – como os pequenos frascos do dito popular – devem atrair muitos leitores pela condensação, pelo formato e principalmente pela possibilidade de conter grandes ideias em espaços exíguos.
Por outro lado, esses escritores de poemas, contos, ensaios, novelas e até de romances que preferem a narrativa curta talvez se preocupem também com o tempo do leitor ou com o desafio que esse tipo de literatura lhes proporcione.
Há grandes ficcionistas e poetas nessa área. De estalo, lembro-me de Voltaire com o seu Cândido ou o otimismo, Rimbaud (As iluminações), Molière (O avarento), Kafka (A metamorfose), Orwell (A revolução dos bichos), Raul Pompeia (O ateneu), Machado de Assis (O alienista), Andreiev (Os sete enforcados) e dezenas de outros tão díspares quão clássicos ao longo do tempo.

A propósito, falarei rapidamente (para não perder o mote) de dois livros editados recentemente e sem querer comparar com os clássicos já citados: O champanhe, de Adrino Aragão, e Teoria da literatura, de Roberto Acízelo de Souza.


O contista Adrino Aragão.




Em 62 páginas, formato de bolso, O champanhe (LGE Editora), do amazonense Adrino Aragão, é uma novela (ou um romance que se enovelou?) que ficcionaliza vida e obra de Anton Tchekhov. Pessoas e personagens, vida e ficção, cenários e ambientes se embaralham em meio a obras do autor russo, como O cerejal, Tio Vânia e Jardim das cerejeiras. Atores brincam em cena com “um grão de ervilha na mão”, no Teatro Taganrog; a beleza de Maria, a permanência de Olga em Moscou, o fracasso da apresentação em Petersburgo, o amor de Anton são sonhos de uma vida preparando um final de história e texto na fala de Nina em A gaivota: “Preciso ir, adeus, desculpe a minha emoção; mas eu me controlei por dez anos, e hoje tudo veio à tona (mais calma) e você vai ficar? Boa noite.” (p. 57).
Trata-se de um livro que vem coroar a carreira de Adrino Aragão em plena maturidade criativa, e chega ao público numa hora em que as obras de ficção baseadas na vida de escritores estão causando grande interesse.

Autor de vários livros sobre literatura brasileira e teoria literária, Roberto Acízelo é professor da UERJ e versado em pesquisas, como demonstra sua Teoria da literatura (Editora Ática).
Acízelo sintetizou em 87 páginas, também em livro de bolso, parte de sua vasta experiência literária com uma precisão e uma acuidade de raciocínio dignos de um verdadeiro estudioso. O autor busca a origem, a definição de conceitos como teoria e crítica literária e suas diferenças, analisa suas disciplinas concorrentes, as noções de ciência da literatura e seu objeto, enfocando itens como critérios de beleza e outros.
O autor discorre, em capítulo específico, sobre as várias correntes teóricas ao longo da história, como as textualistas, fenomenológicas, sociológicas, mostrando a eficiência e o fundamento de cada uma. Ao final, desfia um vocabulário crítico e comenta a bibliografia utilizada, em dados claros e concisos. Reputo este livro como imprescindível para professores e alunos de graduação em Letras, principalmente pela abordagem consistente, didática e criativa dos temas literários.


O professor, crítico e teórico de literatura Roberto Acízelo.




Um e outro – o livro de Adrino e o de Acízelo – são exemplos de textos curtos, o primeiro na arte da ficção e o segundo na seriedade do estudo, que ambos os autores manejam com maestria e nos trazem a ideia de que a teoria e a prática podem fazer igualmente a delícia dos leitores, especialmente os mais impacientes.