4/22/2023

INCONFIDÊNCIAS POÉTICAS

 

INCONFIDÊNCIAS POÉTICAS

 Joaquim Branco

 

Rola o tempo da gastança

em que a abundância do ouro

fazia antes as despesas del rei,

e dos governadores da província

das Minas e dos comerciantes.

 

Ainda chora Marília de amores

perdida pelo Ouvidor

de dores poéticas nas esquinas,

becos e descidas de Vila Rica,

esquecidas na beleza de Bárbara

que fazia os encantos de Alvarenga

com sua arenga de doutor das leis.

“Bárbara bela/ do norte estrela

que meu destino/ sabes guiar....”

 

1200 arrobas anuais do quinto do ouro

vão para Lisboa em caixotes

mas o ouro acabou, disse o minerador.

Enquanto as colônias inglesas da América

mal disfarçam sua vitória,

a nossa inglória terra paga

ainda os impostos com o que não tinha.

 

Fantasmas do Marquês de Pombal

e Cláudio Manuel cochicham nadas

na Casa de Ópera de dona Josefa

e veneram uma relíquia sagrada.

 

Muitos escondem os diamantes no contrabando,

em troca do silêncio dos Dragões do Regimento.

 

Reuniões em salas secretas se fazem

enquanto Silvério os troca por míseros réis

e Gonzaga espanta o medo no favor

amoroso de dias futuros e fagueiros

e Marília sonha com o poeta-pastor.

 

De repente, o sublimado passou

o sonhado, e o esperado não virou ato.

E Tiradentes?

Este, coitado, teve o maior castigo

e a maldição dos muitos inimigos.

 

21-04-2023