2/17/2008

OSWALDO ABRITTA - Poema


A RUA DA ESTAÇÃO

A rua da Estação em Cataguases,
à noite, é silenciosa
e os automóveis sobre ela deslizam
como se deslizassem sobre um tapete...
Passam homens, mulheres apressadas
para o footing da Praça Rui Barbosa,
onde eu vejo sempre uma melindrosa
defendendo o charleston e falando
em crepes da China e fios de Escócia
e meias bege...
Mal sabe ela que eu a sigo silencioso
só porque ela se parece com um mapa
da América do Sul, colorido...
A rua da Estação em Cataguases, durante o dia,
é tumultuosa como os grandes centros.
Passam rapazes sem paletó e vão dizendo "olá "
para os conhecidos...
Caminhões, carroças...
Tudo exprime vida, força, energia, entusiasmo
nesta cidade principesca...
A rua da Estação é a vida de Cataguases.
(16.01.1928)

(na foto: Oswaldo, a esposa Yolanda e o filho Luiz Carlos, em 1938)




OSWALDO ABRITTA

OSWALDO ABRITTA (1908-1947)

Nasceu no distrito de Cataguarino, município de Cataguases, filho de Boaventura José Abritta e Ana Lopes do Nascimento.
Fez o curso médio no Ginásio Municipal de Cataguases, hoje Escola Manuel Inácio, onde teve intensa atividade literária no Grêmio Literário Machado de Assis e publicou poemas em vários jornais da cidade.
Participou em 1927 da criação da Revista Verde, como poeta. Formou-se em Direito, exerceu a advocacia e foi juiz de direito em Guarani e Carandaí(MG).
Obra póstuma: Versos de ontem e de hoje(editado por seu filho Luiz Carlos em 2000) escrito em 1931.
Este ano vamos comemorar na FIC e no jornal Cataguases o centenário de seu nascimento : 1908 - 2008. Aguardem.
Leiam o poema "Jardim", de 1927:
"Monotonia estranha dentro da tarde.
E o meu jardim?
O meu jardim
deixou de ser jardim
para ser perfume."

2/16/2008

HISTÓRIA DE CATAGUASES - Educação

COLÉGIO CATAGUASES - Antigo Ginásio Municipal de Cataguases, num painel de fotos da formatura de 1945, com formandos, professores e diretores. Em cima: Francisco Inácio Peixoto, José Silva Gradim, Manuel das Neves; Professores: Lysis Brandão da Rocha, Pierre Teotônio da Silva, Antônio Amaro, Martins Mendes e Ângelo Rocha; no meio, o inspetor Abílio Novais; os demais são formandos de 1945 (ginásio). (Foto fornecida pelo poeta-aluno Francisco Marcelo Cabral).


2/15/2008

CAMPO DE POUSO I

CAMPO DE POUSO I

Joaquim Branco

“Às vezes também penso, e imagino, que o que me dá realmente este enjôo constante é o movimento de rotação da Terra.”
“[...] cheguei até à beirada do planeta e olhei pra baixo. Sabes que não tinha nada lá? [...]”
(Lecy Delfim Vieira)

KJ-1 tremera ao acordar. Num jato, estava no banho e preferira não pensar. Como se pudesse estar à meia-luz dos fatos e esquecer tudo.
Espanejar a memória. Desligar o painel como na vídeo-tela.
Escurecer por dentro. Fim.
As cortinas de par em par na torre: abertas agora por um botão.
KJ-1 vê a noite, quase refeito. Ele sustenta náuseas de tempos que se acumularam em fatias de bolo. Por isso foi que tremeu, num susto, em lances de sonho.
Esses transportes à outra realidade haveriam de ser sempre mal lembrados. Não dera jeito de se livrar da memória ainda, como também dos sonhos rápidos. Num segundo, vira YU-15, NO-3 e WRE-17, figuras embaçadas de épocas passadas e ruins.
Das alturas da torre em que mora e pela vista magnética aos seus olhos, um grande setor do Campo de Pouso parece fantástico demais para ser visto. Como o que havia acontecido em sua vida anterior.
Pontos luminosos no horizonte, brilhos de outras torres mais distantes, um jato puro passando, o violeta saído de cores difíceis de se descrever, no ar.
Nuvens-flocos mais escuras que claras. Tonalidades no céu, na pré-manhã, noite ainda. Silêncio natural. Focos de luz relanceando vez ou outra.
Ele fora para ali recentemente, mas como difere de outras eras, esse tempo.
Aquele outro formava um compartimento estanque com espaços marcados e horas definidas.
KJ-1 passara pela colônia de estímulos e fizera primeiro um tratamento de adaptação.
No Campo de Pouso, agora aguarda as reações e partirá para ‘novas tendências’, como haviam previsto os seus iniciadores. Para os técnicos do KRJUYC talvez essa fase de transição e a simples colocação no Campo possam levar KJ-1 a um plano melhor, e talvez nada mais seja necessário, devido ao nível de seus conhecimentos. Havia sido um especialista em ficção científica, um indivíduo sensível.
As alterações na memória levaram, porém, KJ-1 a uma preocupação maior. Depois das técnicas iniciais, aprendera o médium-tônus-ócio. E criara um vazio interior indefinível. Não poderia dizer que fosse bom ou ruim. O certo é que KJ-1 voltara a um estágio pré-cultural e as coisas ficaram distantes e desinteressantes.
Os olhos de KJ-1 não sabem perguntar mais nada: as torres onde mora fecham-se numa solidão de régua e compasso.
Há muitos dias que não ligava a vídeo-tela. Não lhe interessam as notícias, a ludo-arte ou o make-messages. Está vivendo ainda do mal, ao sabor, no entanto, de uma esteira de tecnologia e lazer, como os demais naquele Campo. Por vários dias, anda lentamente em seu life-room. Os olhos fixos no grande visor da torre.
Agora começa a sentir novamente. Não são bons sinais para quem vem de lutas psicológicas antigas e pensa estar fora de um tempo-espaço convencional. Por certo não há lugar mais para angústias e problemas individuais. Isso o assusta ainda.
E internamente KJ-1 já estivera preparando terreno para uma saída dessas, desde que passara a ter contato com o pessoal do Campo de Pouso.
O psicológico só beneficia tiranias mentais – pensara certa vez. Blasfema para o ar. E o éter lá fora, no nível das torres, parece diluído e filtrado, como nas galáxias que aprendera a ver na tela, em horas variadas.
“Estrelas natimortas”, “a fria constelação do Touro”, tudo lembra um poema de Faustino. Bahh!!! Velhas idéias.
De repente vê os limites da noite na Terra, em confronto com as imagens pretas de uma visão extra-terrena.
E, na vídeo-tela, aos poucos, seu decifrador de idéias traduz, em filamentos, um estranho esboço visual que logo reconhece claramente. Não pode acreditar no que vê.
Então KJ-1 – ao mesmo tempo que parece ensaiar as idéias – codifica o pensamento, e a máquina imediatamente recebe seus impulsos, mostrando no visor as primeiras palavras de um longo texto em que se vê mergulhar:

Campo de Pouso, 21 de janeiro de 1974.

2/04/2008

POEMAS NA BLOGOSFERA

Poema visual em que se enfatiza o "corte", tanto nas palavras (que perdem sufixos) como nas imagens (que são excluídas por sinais). A exclusão faz emergir o vocábulo AÇÃO que funciona como sinalizador/solução. Resultado: a experiência crítico-formal proposta pelo poeta.