8/17/2007

CURTIÇÕES DO SÉCULO XIX




Temas não muito encontrados na ficção do século XIX no Brasil – pederastia, lesbianismo, sexo, violência – vão ser alguns dos ingredientes do caldeirão de O cortiço, de Aluísio de Azevedo, edição da série “Bom Livro”, da Editora Ática.
Dos principais romances do chamado Naturalismo do fim do Oitocentos, O cortiço sacudiu pra valer o conservadorismo da Corte de Dom Pedro II – mais acostumada aos versos de Gonçalves de Magalhães e aos romances de Joaquim Manoel de Macedo –, e fez sucesso tanto de público quanto de crítica.
As cenas vividas pelos personagens do livro no Rio de Janeiro e todo o seu caldo grosso até hoje ressoam nos ouvidos da província natal de Aluísio de Azevedo, o Maranhão. O romance retrata o dia-a-dia das pessoas pobres, nas antigas habitações coletivas denominadas cortiços.
Convivendo ao lado do sobrado – onde residiam os donos do cortiço –, seus moradores são mostrados em toda a crueza possível da época, ressaltando o autor as oposições não só entre os personagens (que são vistos em pares, como acentua o crítico Rui Mourão) como também a “luta” Cortiço X Sobrado, que aparece na trama da estória.
Com este livro, publicado em 1890, Aluísio de Azevedo expressou o Naturalismo no Brasil e, colocando sua lente nas camadas mais desfavorecidas da população, levou de uma só vez toda uma massa de anônimos e oprimidos para a galeria de personagens da literatura brasileira.
A edição, muito bem cuidada, traz, além do texto integral, excelente apresentação do crítico Rui Mourão, uma parte final com material iconográfico com dados do autor e da época e também um suplemento de leitura com exercícios para estudantes de literatura.

(imagem de Aluísio de Azevedo - divulgação)

Um comentário:

Darien disse...

Realmente, O Cortiço é uma obra que, até hoje, nos atinge. As descrições detalhadas que Aluísio faz no livro nos insere num Rio de Janeiro real do século 19.
Estou elaborando um artigo sobre O Cortiço (centrado em Pombinha e no lesbianismo)e gostaria de manter contato o senhor.
Abraços