4/30/2007

AO MESTRE, COM ADMIRAÇÃO


Transcrição de uma crônica que escrevi para o jornal Cataguases, quando da inauguração, no CAIC, da Biblioteca José da Silva Gradim:


“Talvez a velhice e o medo enganem-me, mas suspeito que a espécie humana - a única - está por extinguir-se e que a Biblioteca permanecerá: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.”       Jorge Luis Borges, in Ficções



A noite prometia tudo, mas era destinada a poucos. Ou poucos puderam escolhê-la, porque no fundo de seu mistério havia um mestre e sua biblioteca. Estrelas tinham cunhado para si e para ele uma luz especial, própria.

O CAIC, colocado estrategicamente no morro, parecia uma esfinge à espera de todos, os convidados. Nos olhos da diretora havia um brilho novo: Filomena sorria e aguardava a hora de repartir o segredo de tanto tempo – a Biblioteca José da Silva Gradim.

Esperávamos todos e era como não se esperasse ninguém. Contudo, mais uma vez o mestre se fez presente e os primeiros faróis e motores vazaram o silêncio e o breu, para se transformar em números de amigos, professores e aficcionados da língua e da literatura luso-brasileira.

Pequenos grupos começaram a se esquentar da noite fria na conversa animada. Célio e Ana Maria, Dirce, professor Luís, Imaculada, Betinha e Pedro Mendes, Hélia, Maria Lúcia e Paulo Miranda, Vasco e Filomena e muitos outros ex-alunos, colegas e admiradores. O assunto rolava um só: o ineditismo e a raridade da homenagem. Finalmente, um evento cultural no sentido mais justo e profundo que se poderia imaginar em Cataguases.

Chegava a hora e subimos todos para o primeiro andar do CAIC. Corredores e portas levavam a uma nova ordem de coisas onde a clareza e o despojamento incitam ao estudo e aos objetivos. No último vão, enfim, a biblioteca. Na parede de frente, o pôster da página inteira do “Cataguases” ampliada, onde se traçava o perfil do professor. Dirce, emocionada, descerra a placa em bronze: Biblioteca Professor J. S. Gradim. Filomena marca uma vitória na cultura cataguasense.

Saudações e apresentações. Célio Lacerda custa a colocar a voz no lugar, mas as palavras são firmes, fiéis, quase perfeitas, daquelas que qualquer um de nós gostaria de assinar em baixo. O ambiente era gradiniano, em cor e forma, e em fundo também.

Lá fora o ar era tão frio que constrastava com o interior do prédio e de todos. As pessoas pareciam como que escolhidas para estar ali. No céu de junho, poucas estrelas arriscavam um brilho e lá dentro apenas um vulto parecia passear entre nós e os livros, lembrando os textos e tempos de Garret, Herculano, Machado e Camões – o professor Gradim e sua poderosa voz ressoando verbos, declinações, supinos e particípios do futuro, poemas e contos fantásticos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo belo texto sobre o saudoso professor Gradim. Vc, minha prima Stela e eu fomos colegas no Colégio de Cataguases. Abraço.
Caetano Mauro
caetano.mauro@terra.com.br

Anônimo disse...

Ao ler o texto senti como se eu estivesse naquele lugar com toda aquela magia da cultura que apenas aqueles que a conhecem conseguem apreciar ocasiões como aquela. Parabéns pelas belas palavras e por ser um mestre que admiro muito. Um abraço. Tânia Abritta Reis

Anônimo disse...

Joaquim,

Parabéns pela homenagem ao professor Gradim. Que saudade!
Um abraço,

Eliana