12/09/2013
EVOLUÇÃO PARA TRÁS
No livro "Relíquias da casa velha", de Machado de Assis, há um conto intitulado "Evolução", em que o autor – através do personagem-narrador Inácio – faz suas considerações, como sempre.
Prepara-se o tema assim: "Quem nunca viajou não sabe o valor que tem uma dessas banalidades graves e sólidas para dissipar os tédios do caminho. O espírito areja-se, os próprios músculos recebem uma comunicação agradável, o sangue não salta, fica-se em paz com Deus e os homens".
No diálogo que se abre, Machado aproveita para chamar atenção para um dos nossos maiores problemas – a falta de ferrovias – e que já foi antevisto por ele na época:
"– Não serão os nossos filhos que verão todo este país cortado de estradas, disse ele.
– Não, decerto. O senhor tem filhos?
– Nenhum.
– Nem eu. Não será ainda em cinquenta anos; e, entretanto, é a nossa primeira necessidade. Eu comparo o Brasil a uma criança que está engatinhando: só começará a andar quando tiver muitas estradas de ferro.
– Bonita ideia! exclamou Benedito faiscando-lhe os olhos.
– Importa-me pouco que seja bonita, contanto que seja justa." (p. 76)
Vale uma observação a mais. Saiba-se que o Brasil chegou a ter muitas ferrovias até o século XX, mas foram sendo desativadas pelos governos da ditadura de 64, em prol de uma política equivocada. Espero que isso seja revertido, pois trata-se de um meio de transporte barato e eficiente. Já fui muito ao Rio, na década de 40 e 50, com meus pais e minha avó, e não me esqueço dessas incríveis viagens, apesar de demoradas. Na passagem escura dos túneis, eu tinha muito medo e minha avó sempre acendia uma vela salvadora.
Velho e grande Machado. Tão atual que não foi levado a sério. Pior para nós.
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4 comentários:
Grande Machado de Assis, além de ser um escritor de magnitude imensurável para nossa literatura também era um visionário.
Quanto as ferrovias parece que o Brasil ingressou em um processo contrário ao que houve na Europa, onde se viaja por vários países utilizando rodovias, nós, ao invés de aumentar nossa malha ferroviária, fomos desativando-as aos poucos até quase não restar nada. Em um país com essa dimensão rodovias seriam de grande valor.
Isso aí, Daniel
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