6/01/2008

A HORA DO MESTRE

A HORA DO MESTRE

Joaquim Branco*


Infelizmente, por uma dessas questões do destino, nunca fui aluno do professor Antonio Candido. Ele lecionou teoria da literatura por muitos anos na Universidade de São Paulo e hoje, aposentado, dedica-se a artigos e livros e a palestras em congressos e eventos literários.

Mas conheço grande parte de sua obra, onde aprendi lições fundamentais com a inteligência, o talento e principalmente a simplicidade objetiva de seus textos teóricos e críticos.

Pelo Correio e de surpresa, chegou-me, porém, no final de 2007, por iniciativa de um amigo (Ronaldo Cagiano), um verdadeiro presente de Natal e fim-de-ano: o Estudo analítico do poema, que nada mais é do que um curso ministrado por Candido em 1963 para uma turma de Letras da USP, e, na época, mimeografado por alguns professores. A Editora Humanitas recentemente o editou.

Imaginem a oportunidade que tive de ‘assistir’ a algumas de suas aulas e a preciosidade, que, de agora em diante, está ao alcance de todos.

Candido inicia suas considerações pelos conceitos de poesia e poema, poesia e literatura e apresenta o programa do curso. Passa em seguida às noções de análise e interpretação do poema e outros itens.

Há, no livro, outro capítulo interessantísssimo sobre os fundamentos do poema, em que penetra na sonoridade e no ritmo com rara propriedade, e também no metro e no verso, baseando suas lições em conceituações próprias, nas de outros teóricos, e em clássicos, românticos e modernos como Camões, Gonçalves Dias, Bandeira e outros.

O autor reserva sua última intervenção para a natureza da metáfora, introduzindo teorias de Vico, passando por Freud e Jung e chegando a Bachelard.

Com este pequeno volume de 160 páginas, Antonio Candido nos proporciona, no mínimo, uma bela viagem, na qual quem sai premiado, por momentos de sensibilidade e argúcia poética, é uma solitária e afortunada figura, à qual Borges constantemente gostava de se referir: o leitor.


*Professor das Faculdades Integradas de Cataguases; doutor em literatura pela UERJ;
pós-doutorando em ciência da literatura pela UFRJ.
joaquimbranco.blogspot.com
www.joaquimbranco.cjb.net

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

Meu caro, Antonio Candido é um dos grandes nomes da literatura brasileira em sua vertente teórica. Mas esse livro, infelizmente, não conheço... Um grande abraço.

Lazaro Barreto disse...

Prezado Joaquim: toda vez que leio seus textos (em prosa ou em versos), fico admirado e enriquecido, como se estivesse vendo um filme de Bergaman, de Woody Allen, um livro de...de...Joaquim Branco! Parabaéns e abraços do sempre leitor e admirador Lázaro Barreto.