6/27/2008

O POEMA EM PROSA

O POEMA-EM-PROSA


Gênero de literatura pouco comum atualmente, o poema-em-prosa já teve grandes cultores tanto no Ocidente como no Oriente.
Trata-se de textos de natureza poética, geralmente curtos, e, como o próprio nome indica, têm a forma prosaica. Líricos, intimistas, apologéticos, muitas vezes vêm carregados de humor.
Entre os orientais, esse tipo de composição literária teve em Tagore um mestre e entre nós aparecem os franceses Rimbaud e Mallarmé, o espanhol Juan Ramón Jiménez, o argentino Jorge Luis Borges e os brasileiros Cruz e Sousa, Bandeira e alguns poucos.
Um dos praticantes desse gênero no século XIX – descoberto pelo gênio de Baudelaire – foi o poeta francês até hoje pouco conhecido Aloysius Bertrand, autor do livro Gaspard de la nuit.
Pois essa preciosidade, com belos desenhos de Rembrandt e Callot, foi traduzida recentemente por José Jeronymo Rivera (EditoraThesaurus) (editor@thesaurus.com.br).
Destacamos na abertura do volume o excelente texto de Xavier Placer, que introduz o leitor na obra de Bertrand e nas características do poema-em-prosa através dos tempos.
E quase no final, um dos textos de Bertrand, uma prosa curta, poeticamente escrita, pode ser um exemplo desse tipo de composição:


O CADAFALSO
Ah! O que ouço será o vento noturno a soprar, ou o enforcado exalando um suspiro na forca patibular?
Será algum grilo cricrilando escondido na grama e na hera estéril, com a qual por piedade se aduba o bosque?
Ou será alguma mosca a caçar, soando sua trompa junto às orelhas surdas à fanfarra dos toques de caça?
Será algum escaravelho que colhe em vôo desigual um pêlo sangrento do crânio calvo?
Ou será talvez uma aranha bordando meia vara de musselina para uma gravata a ser atada no pescoço estrangulado?
É o sino que tange nos muros de uma cidade abaixo do horizonte, e a carcaça de um enforcado que o sol poente avermelha (p. 199-200).

Nenhum comentário: