6/17/2018

NOS PORÕES DA MENTE





Considerado o mais importante autor da literatura russa no século XIX, Dostoiévski, atormentado pelo pai despótico na infância e mais tarde pela epilepsia, mesmo assim produziu intensa obra ficcional.

O jovem Dostoiévski, nascido em Moscou em 1821, chegou a enfrentar a prisão e o degredo na Sibéria por ter participado em 1849 de um levante contra o czar Nicolau I. Lá casou-se com Maria Dinitrievna e escreveria o seu 1º clásssico: Recordações da casa dos mortos.

Dez anos após, de volta a São Petersburgo e com novas idéias políticas, dedicou-se ao jornalismo e publicou Crime e castigo – sua mais célebre novela – e Noites brancas.
Apesar da venda dos livros, endividou-se com a doença da mulher, a quem abandonou para seguir para o exterior com a estudante Polina Súslova. Consegue trabalho na França, e gasta o dinheiro no jogo. Com remorsos pela sorte da esposa, deixa a amante e volta à Rússia, onde enfrenta situação pior: repressão, encargos e doenças na família.
A epilepsia e a angústia atacam-no. Nesse período concebe a novela Notas do subterrâneo, livro publicado no Brasil pela Editora Bertrand-Brasil em tradução de Moacir Werneck de Castro, capa de Victor Burton.

Reflexo direto de sua precária condição pessoal, o livro é um mergulho na mente humana, onde o autor vai buscar no pessimismo e na dor material para a obra, da qual transcrevemos alguns fragmentos:
“[...] não somente não mudamos, como simplesmente não podemos fazer coisa alguma. Seguir-se-ia, por exemplo, como resultado de uma consciência apurada, que ninguém se censura por ser um canalha, como se houvesse para o canalha algum consolo no fato de compreender que é realmente um canalha”. (p. 15)
“E agora termino minha vida no meu canto, escarnecendo de mim mesmo com o inútil e despeitado consolo de que um homem inteligente não pode vir a ser nada de sério desde que o só o idiota o consegue. Sim, no século XIX, um homem inteligente deve, está obrigado moralmente a ser, em essência, uma criatura sem caráter.” (p. 11)

Quando preparava para seu editor o livro Crime e castigo, Dostoiévski apaixona-se por sua estenógrafa Ana Grigonevna. Mudam-se em 1867 para Genebra, na Suíça, em razão de dívidas, e depois para a Itália.
Em 1871 voltam com uma filha para a Rússia e com algumas economias. Redator-chefe de O Cidadão, torna-se um renovador do jornalismo. Quando publica Os possessos e Os irmãos Karamázovi já era o maior autor russo do momento.

No geral de sua obra, Dostoiévski tematiza o drama do país e do povo russo, as mudanças de um sistema quase feudal no campo por influência de uma Europa que se modernizava, as injustiças, a violência, o materialismo e a fé.
Morreu em São Petersburgo em 1881.

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