4/27/2015

PEQUENO PERFIL DOS "VERDES" - Cataguases 1927 - 4 Fonte-Boa



FONTE-BOA - Christóphoro Fonte-Boa nasceu em São Gotardo (MG), em 1906. Com os colegas da mesma idade, participou das sessões do Grêmio Literário Machado de Assis, como orador. Em 1927 participou da equipe da revista Verde. Advogado e jornalista, trabalhou como redator do Diário de Minas, de Belo Horizonte, e, em Juiz de Fora, do Diário Mercantil. Também colaborou na revista literária Leite Criôlo. Morreu em Juiz de Fora, em 1993. Obra: Eu, tu e a quarta dimensão.


O ÚLTIMO DOS VERDES

Joaquim Branco

Já tinha desistido de conseguir maiores informações sobre o escritor Christóphoro Fonte Boa, um dos participantes do movimento Verde em Cataguases. Foram anos de procura em jornais, universidades, bibliotecas, até no Arquivo Mineiro fui buscar fontes. Ninguém sabia do nosso poeta.
E eis que agora obtive uma pista por meio do amigo e professor de Geografia Marcos Mergarejo Netto, com quem falei de minhas preocupações acerca daquele que era o mais ‘misterioso’ dos membros da revista Verde. Marcos conseguiu o número de telefone de um sobrinho de Fonte Boa, o advogado Válter Bueno Fonte Boa, residente em São Gotardo. Através do Válter cheguei a dona Veralice Fernandes Fonte Boa, uma sobrinha com quem Christóphoro conviveu em Juiz de Fora antes de morrer em 1993. Em breve, pretendo ir a Juiz de Fora para uma entrevista com dona Veralice.
Por enquanto, revelo os dados que consegui com a prestimosa colaboração do dr. Válter e de dona Veralice.
Christóphoro Fonte Boa nasceu em São Gotardo (MG) a 29 de agosto de 1906, filho de Sebastião Lopes Fonte Boa e Firmina Alves da Silva.
Fez os primeiros estudos em São Gotardo e parte do curso ginasial em Ouro Preto, concluído no Ginásio de Cataguases. Trabalhou em ambos como inspetor de alunos.
Em 1927 participou do Movimento Verde.
Em 1932, concluiu o curso de Direito na UFMG, em Belo Horizonte, e exerceu o jornalismo no Diário de Minas.
Pertencia à Academia de Letras de Juiz de Fora e escrevia no Diário Mercantil, quando passou a residir em Juiz de Fora. Morreu em Juiz de Fora em 1993.
Deixou o livro Eu, tu e a quarta dimensão, edição particular e fora de comércio.
Com o título sugestivo de “O sol na prosa”, transcrevo um poema de Fonte Boa que vale pelas imagens de um cotidiano brincalhão retratando a capital mineira:

O SOL NA PROSA

Em Belo Horizonte em junho
o sol pela manhã não
é pau não.
(Se fosse em Ouro Preto as
lagartixas se espichavam
pra fora dos buracos
nas pedras centenárias)
Ao meio-dia não é de
todo católico debaixo
do braço dos transeuntes.
Mas às quinze é banzão.
nas sombras compridas
das árvores redondas.
Por que então aquele
homem varapau de
guarda-sol ou chuva
na paisagem mineira?

Fontes: revista Cidade das Letras, da Academia de JF, de 31.05.1945, p. 39; Poesia em Juiz de Fora (coletânea) - Projeto Documento - Pesquisa: Dormevilly Nóbrega – FUNALFA - 1981.


O POETA
Fonte-Boa

Trago nos olhos o peso de noites inteiras mal dormidas.
No coração esta ânsia de horizontes irrevelados.
Acima da minha cabeça estende-se o abismo
que nasceu dentro de mim
quando aprendi a sofrer a angústia da profundidade.
Penetrei o limiar azul dessa paragem,
embriaguei-me da sua mansuetude.
Vi a eclosão do amor em círculos concêntricos
afirmando a realidade essencial.
Vi auroras boreais, poentes luminosos,
arco-íris de polo a polo.
Eu ia levado pela tua mão.

TU E VOCÊ
Christóphoro Fonte Boa

(para sua Olguita)
Estou aqui pensando,
Pensando em te escrever,
Porém não sei "o que".
Uma coisa boa
Escrita assim à toa
Mas só para você.
Uma carta em verso?
Dirá logo você:
"Nem devo ler..."
Falta-me o estilo terso,
Mas a rima é você.
Como disse o poeta Paulo Geraldy:
"O tu e o você
São palavras iguais
No estilo familiar..."
Assim é mais gostoso,
Muito mais,
Escrever para você.


O poeta Christophoro Fonte-Boa recém-formado em Direito.


O poeta, a esposa Olguita e a irmã Arlete, no Rio de Janeiro, em 28-10-1975.


Fonte-Boa, a esposa e um amigo.


Olguita quando solteira.


Casa onde morou o casal em São Gotardo MG.

(dados e fotos fornecidos por familiares de Fonte-Boa e hoje pertencentes ao meu arquivo literário).




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