2/01/2015
O TRIÂNGULO MACHADIANO
“O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que passou é só fantasiar.”
(MACHADO DE ASSIS, em crônica de 15.3.1877, na revista Ilustração Brasileira, apud revista Contato, nº 6, jan-mar/2000)
Um dos temas mais apreciados por Machado de Assis em suas obras é o do triângulo amoroso que coloca três personagens numa balança: o marido, a mulher e uma terceira pessoa, geralmente um homem.
Isso está patente nos seus mais importantes romances – Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, bem como em vários de seus contos.
O célebre triângulo não é propriamente uma invenção do romancista, mas uma reprodução da vida tal como ela é. E Machado de Assis, como um analista de casos e personalidades, não só contemplou-o como também produziu com sua ficção profundas introspecções dentro dessa temática e sob diversos ângulos.
Assim, vemos em Memórias póstumas de Brás Cubas – embora não seja este o leit-motiv da obra – um triângulo formado por Virgília, Brás Cubas e Lobo Neves, em que o personagem-narrador (Brás Cubas) faz o papel do traidor que malbarata um casamento já em si mal resolvido. Interesses de parte a parte se entrecruzam e acabam por formar a própria narrativa em vários trechos do livro.
A estória mais conhecida do público é a de Dom Casmurro, em que Bentinho se ‘sente’ o marido traído pelo melhor amigo – Escobar –, ficando Capitu no vértice mais caprichoso do triângulo. Aqui o triângulo está no centro do romance, pois é através dele que o narrador respira e faz palpitar a sua trama.
Já em Quincas Borba, temos novamente o protagonista como um "traidor" diferente – Rubião –, que se mete com o casal Palha-Sofia, mas nunca consegue perturbar a dupla de pilantras que se articula para roubar e realmente rouba sua fortuna.
Entre os temas mais caros a Machado – como a busca da perfeição humana, a loucura, a dúvida, o fantástico –, insere-se o triângulo amoroso nas suas narrativas, a ponto de fazer parte essencial dos seus três melhores romances e de tantos contos, e lhe permitir criar momentos inesquecíveis da literatura brasileira.
(desenho: Luzimar)
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