2/14/2015

BRASÍLIA: A CIDADE E AS PALAVRAS





Nicolas Behr é um remanescente da geração de poetas que revolucionaram os anos 70 do século XX com sua poesia minimalista, rápida, bem-humorada e objetiva. E, para ser mais preciso, em doses homeopáticas. Ou seja, em pequenos livros feitos artesanalmente em mimeógrafos ou gráficas caseiras, foi editando ele mesmo suas preciosidades: "Iogurte com farinha", "Chá com porrada", "Brasileia desvairada", "Vinde a mim as palavrinhas" e uma série imensa de outros, sempre com a marca da qualidade unida à novidade.

Não se pode esquecer, porém, que a maioria deles tem a cidade de Brasília como leit-motiv e referência maior.

Esse brasiliense de coração agora comparece com mais um pocket-book que intitulou "BrasíliA-Z - cidade-palavra", um minidicionário que marca sua longa e intensa vivência na capital federal.

São verbetes que começam com a palavra "Alma" e terminam com "Vitrais" e catalogam praticamente tudo o que se falou ou escreveu sobre Brasília, numa demonstração de que esse maior conhecedor da cidade traçou um mapa completo de sua vida, mazelas e grandezas, acrescentando invariavelmente sua visão pessoal.

No verbete "Alma", está a impressão negativa que teve a escritora francesa Simone de Beauvoir ao passar por lá em 1960: "Brasília nunca terá alma. Estou em Brasília, a mais demente elocubração que o cérebro humano jamais concebeu [...]" E o nosso autor arremata: "A praga que Madame de Beauvoir rogou contra Brasília não vingou. Errou feio." (p. 12)

Há no livreto um roteiro impressionante sobre restaurantes, igrejas, vias públicas, bares, festas e ainda curiosidades sobre cigarras, presidentes, personagens marcantes, e tudo que deixa entrever o seu profundo conhecimento acerca de Brasília e especialmente sua história e suas virtudes de cidade especialíssima.

Para os que – como eu – admiram a capital brasileira ou gostariam de conhecer os meandros de sua geografia física e humana, não há melhor indicação livreira. É só pedir para o email: paubrasilia@paubrasilia.com.br

Vale como citação final o que Nicolas Behr diz em "Superquadras": "Ao adentrar uma superquadra, atenção: você está entrando em uma ideia. Toque esses pilotis com cuidado, pois que foram sonho. Esses blocos um dia foram apenas rabiscos, intenções. As nossas superquadras são a única experiência de habitação coletiva modernista que deu certo." (p. 146)

(fevereiro 2015)

2 comentários:

ronaldo disse...

Quincas, eu e o Nicolas somos amigos há muitos anos e nos encontramos várias vezes nessa vida, no Rio, em Brasília, em Paraty e, inclusive, aqui em Cataguases quando ele veio para um dos Felicas. Ele é por excelência o poeta de Brasília. Agora, uma curiosidade: sabia que às vezes ele vem a Dona Euzébia para comprar mudas de plantas? Ele tem um comércio do gênero em Brasília.
Ronaldo Werneck

Joaquim Branco disse...

Conheço o Nicolas desde a década de 70, quando ele mandou os primeiros trabalhos para o Totem. Pessoalmente, estive com ele em Belo Horizonte e aqui em Cataguases. Sei que é um cultivador de plantas, mas não sabia que comprava mudas em Dona Euzébia (a capital nacional das mudas).