1/28/2015
BORGES: A ORALIDADE DE UM MESTRE
São célebres as conferências pronunciadas por Jorge Luis Borges em universidades europeias, na América e em outros continentes.
Reunidas, algumas delas foram publicadas no Brasil, nos anos 80, pela Editora Max Limonad de São Paulo sob o título “Sete noites”. Este livro, em termos de criatividade e qualidade textual, nada fica a dever às obras de ficção e de poesia do mestre argentino.
Ali Borges aborda temas como: o pesadelo, a cabala, a cegueira, o budismo, entre outros.
Após a publicação, a partir de 1999, de suas “Obras completas” pela Editora Globo, em excelente trabalho editorial em quatro volumes encadernados, não pensei que teria mais oportunidade de ‘ouvir’ outros de seus textos ditos ‘orais’.
Mas eis que, por vias enigmáticas (borgianas, por certo), descobrem-se seis palestras perdidas, que haviam sido proferidas em inglês na Universidade de Harvard, em 1967-68, que a Companhia das Letras leva ao público com o título de “Esse ofício do verso”, organizadas por Calin-Andrei Mihailescu, em tradução de José Marcos Macedo.
Novos temas no mínimo diferentes: a metáfora; o narrar uma história; o credo de um poeta etc. O mesmo Borges – concentrado e livre; simples e erudito; poético e com uma memória prodigiosa ao citar trechos de livros sem recorrer a apontamentos, e já vitimado pela cegueira.
No capítulo “O credo de um poeta”, faz comentários sobre a literatura, em especial a poesia: “[...] muitas coisas aconteceram comigo, como a todos os homens. Tirei prazer de muitas coisas – de nadar, de escrever, de contemplar um nascer do sol ou um crepúsculo, de estar apaixonado e assim por diante. Mas, de algum modo, o fato central de minha vida foi a existência das palavras e a possibilidade de tecê-las em poesia.” (p. 106)
Sobre a preocupação com o leitor, no mesmo capítulo, pode-se anotar: “Quando escrevo não penso no leitor (porque o leitor é um personagem imaginário) e não penso em mim mesmo (talvez eu também seja um personagem imaginário), mas penso no que tento transmitir e faço de tudo para não estragá-lo. Quando eu era jovem acreditava na expressão. [...] não acredito mais na expressão: acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras? As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar.” (p. 121-2)
Se neste livro mais uma vez o leitor terá contato com uma literatura de alta expressividade (e – por que não dizer? – de inúmeras alusões), característica dos grandes escritores, poderá igualmente usufruir de um conhecimento mais profundo das coisas do mundo que se sintetiza numa só palavra: sabedoria. Que Borges sempre soube distribuir fartamente a todos que o leram e leem.
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