Já vão longe as vanguardas dos anos 60/70, mas trata-se de vertentes não muito estudadas, seja pela variedade de ritmos, textos e imagens que representam esses poemas, seja pela dificuldade crítica em classificá-las.
Alguns nomes, porém, permanecem ativos nesses muitos anos que se passaram. Um deles é Osvaldo André de Mello do qual tenho 2 livros que me foram enviados mais recentemente, ambos com textos e imagens.
“Imagens imorredouras (como se fosse um vitral)” tem mais plasticidade e convida a uma viagem ao passado, como neste “O porta-retratos”:
“O porta-retratos, vazio.
Você mesma
me roubou a sua imagem.
Por detrás do vidro vejo o mundo sem você.
E sofro.” (p. 108)
Em “Faltou te mostrar”, a linha de emotividade junta-se ao final concretista que sintetiza os movimentos:
“Faltou de mostrar
ainda o canto
do sabiá.
O adejar.
O voo. O ovo. O ninho.” (p. 104)
O livro mitificado como objeto poético nasce de “A poesia dos inconfidentes”:
“Para mim, um livro sempre será um livro.
Objeto físico, propicia ao leitor sagrada
relação erótica,
exaltando os sentidos
e a engenharia da construção de imagens.
Quando comprei “A poesia dos inconfidentes”
– cuja leitura não consumei ainda –
abracei o livro volumoso, cheirei-o
folheei-o e o coloquei na estante.
Posso dormir tranquilo,
se na madrugada
vier a vontade
de visitar a Arcádia mineira: aqui está.” (p. 44)
O outro volume é “Lua Nova”, de temas mais variados e até cotidianos, traz o poema para o protesto ante situações de perdas de riquezas minerais e surge nas fortes exclamações:
“Ó finíssimo ar filtrado pelas centenárias
arvores das matas ciliares!
Os quatro elementos reunidos
na curva do Rio Fanado.
A água de fugidio verde.
Que branda seja a sede do Diabo!
As almas descem cachoeira abaixo
e param na curva do Rio Fanado:
choram o ouro de Minas Novas levado.” (p. 102)
A homenagem a Fernando Pessoa em “Ao Mestre Caeiro” se sintetiza em 4 versos bem contidos:
“Cheguei ao coração do dia.
Estar no campo e olhar para dentro
não me deixa ser natural entre as árvores.”! (p. 99)
“Cidade sitiada” completa o protesto do poeta mineiro em nítidas imagens:
“A casa. O curral. O celeiro.
O moinho.
A estufa de fumo. A sebe.
A relva.
O coral das últimas árvores.
A ferida no dorso da montanha.
A beleza cruel do rio poluído.
A próxima cidade e sua sede saciada.
Cidade sitiada.” (p.101)
Impossivel num pequeno espaço mostrar todas as tendências, estilos e habilidades de um poeta tão inspirado como Osvaldo André de Melo, mas certamente o leitor sentirá nestas breves linhas a força de um trabalho que ficará gravado por este poeta de Divinópolis, ultrapassando os limites de sua terra.
(19-10-2025)
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