10/19/2025

OSVALDO ANDRÉ DE MELO


  ENTRE PROTESTOS, LUAS E VITRAIS 

 Já vão longe as vanguardas dos anos 60/70, mas trata-se de vertentes não muito estudadas, seja pela variedade de ritmos, textos e imagens que representam esses poemas, seja pela dificuldade crítica em classificá-las.

 Alguns nomes, porém, permanecem ativos nesses muitos anos que se passaram. Um deles é Osvaldo André de Mello do qual tenho 2 livros que me foram enviados mais recentemente, ambos com textos e imagens. 

“Imagens imorredouras (como se fosse um vitral)” tem mais plasticidade e convida a uma viagem ao passado, como neste “O porta-retratos”: 

“O porta-retratos, vazio. 
Você mesma me roubou a sua imagem. 
Por detrás do vidro vejo o mundo sem você. 
E sofro.” (p. 108) 

 Em “Faltou te mostrar”, a linha de emotividade junta-se ao final concretista que sintetiza os movimentos: 

“Faltou de mostrar ainda o canto do sabiá. 
 O adejar. 
O voo. O ovo. O ninho.” (p. 104) 

 O livro mitificado como objeto poético nasce de “A poesia dos inconfidentes”: 

“Para mim, um livro sempre será um livro. 
Objeto físico, propicia ao leitor sagrada relação erótica, 
exaltando os sentidos e a engenharia da construção de imagens. 
Quando comprei “A poesia dos inconfidentes” 
– cuja leitura não consumei ainda –
 abracei o livro volumoso, cheirei-o 
folheei-o e o coloquei na estante. 
Posso dormir tranquilo, se na madrugada 
vier a vontade de visitar a Arcádia mineira: aqui está.” (p. 44) 

 O outro volume é “Lua Nova”, de temas mais variados e até cotidianos, traz o poema para o protesto ante situações de perdas de riquezas minerais e surge nas fortes exclamações: 

“Ó finíssimo ar filtrado pelas centenárias arvores das matas ciliares! 
Os quatro elementos reunidos na curva do Rio Fanado. 
A água de fugidio verde. Que branda seja a sede do Diabo! 
As almas descem cachoeira abaixo e param na curva do Rio Fanado: 
choram o ouro de Minas Novas levado.” (p. 102) 

 A homenagem a Fernando Pessoa em “Ao Mestre Caeiro” se sintetiza em 4 versos bem contidos: 

“Cheguei ao coração do dia. 
Estar no campo e olhar para dentro 
não me deixa ser natural entre as árvores.”! (p. 99) 

 “Cidade sitiada” completa o protesto do poeta mineiro em nítidas imagens: 

“A casa. O curral. O celeiro. O moinho. 
A estufa de fumo. A sebe. A relva. 
O coral das últimas árvores. 
A ferida no dorso da montanha. 
A beleza cruel do rio poluído. 
A próxima cidade e sua sede saciada. 
Cidade sitiada.” (p.101)

 Impossivel num pequeno espaço mostrar todas as tendências, estilos e habilidades de um poeta tão inspirado como Osvaldo André de Melo, mas certamente o leitor sentirá nestas breves linhas a força de um trabalho que ficará gravado por este poeta de Divinópolis, ultrapassando os limites de sua terra. 

(19-10-2025)