10/03/2024

A BOA LITERATURA INFANTIL

 

A BOA LITERATURA INFANTIL

Joaquim Branco

A novela infanto-juvenil “Era uma vez um rio”, confirma o nome da autora Martha Pannunzio entre as melhores do país com sua narrativa poética e bem desenvolvida.

Ainda que dedicada a esse público específico, este livro pode ser estendido a todos os leitores que apreciam a boa literatura.

Martha é uma autora premiada, e seu livro, uma estória com dois personagens, um menino e um rio, que mantêm um diálogo nascido das fantasias infantis de Guto, esse é o nome do garoto.

O texto tem muitos momentos que merecem transcrição e deixam entrever as qualidades da ficcionista, como neste discurso indireto livre impregnado de poesia e referências fluviais:

“Em terra firme ele ficava riando, cachoeirando, correntezando, rebojando garganteando, canalando, remansando, lagoando, dasteando, esturiando, delteando, fozeando, se divertindo com os estabanados cardumes de dourados, lambaris, piracanjubas, piaus, pacus...” (p. 63)

Ou no diálogo com o pai: “– Pai, cadê o rio? Eu perguntei aflito. – O rio está lá embaixo, no mesmo lugar. – Fazendo o quê? – Correndo. – Como assim, correndo, pai? – Correndo, não deslizando.” (p. 67)

Ou mais adiante: “– E o rio, como é que fica, coitado, sozinho, no escuro? – O rio se vira. Continua trabalhando sem ser importunado. Já é um descanso. Vai ver ele gosta.” (p 68)

O monólogo de Guto, recorrente em alguns pontos do livro, também deve ser transcrito: “Eu tinha uma bronca do mar. Para mim ele era um engolidor de rio. Poderoso... Violento... Sorrateiro... Perigoso... Genioso... Sonso... Agressivo...” (p 79)

Terminamos com a volta do diálogo a propósito da viagem do Guto, já adulto e saindo para enfrentar novos desafios: “O rio ficou calado, pensativo, jururu... Era um rio muito sistemático, não ia dar braço a torcer. [...] Presta atenção, Guto: o que a gente ama, a gente leva consigo – Fala bobagem, não, meu amigo, como é que eu posso levar uma ponte comigo, um rio, uma lua... um avô?... Ah, se eu pudesse! – Pode, é só querer – ele afirmou. [...] Se você ama, você descobre o jeito.” (p. 94)

(2000-2024)




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