4/02/2014

QUEM LÊ BEM ESCREVE BEM


“Acho que a felicidade de um leitor está além da de um escritor, pois o leitor não precisa experimentar aflição nem ansiedade: seu negócio é simplesmente a felicidade.” (BORGES, 2000, p. 106)



Jorge Luis Borges (1889-1986), que exerce como poucos a magia da ficção sobre o leitor, deixando-o sempre magnetizado, consegue repetir a façanha também em suas palestras, reunidas em livro que recebeu o título de Esse ofício do verso. Deste, porém, me ocuparei especialmente em outro artigo. Agora farei apenas alusões à leitura e à escritura.

As palavras da epígrafe estão nesse livro, e me vieram à lembrança quando examinava um manual sobre a técnica da leitura e seu aproveitamento para se atingir uma boa escrita: Os degraus da leitura (2000, 81 p.), das professoras Adriane Belluci B.Castro, Cinthia Maria R. Remach, Helena Aparecida G. Arantes e Léa Sílvia Braga de C.Sá, editado pela Edusc-Editora da Universidade do Sagrado Coração, de Bauru (SP).

De modo prático e objetivo, o livro ensina o leitor a penetrar num texto por meio do reconhecimento de suas palavras-chave, da desmontagem de sua estrutura e outros recursos. São muitos os exercícios propostos nos capítulos em que se divide a obra, abrangendo, em um pequeno exemplar, letras de música, poemas, contos e até textos não-literários.

Escrever bem nem sempre significa ser um escritor – poeta ou ficcionista -, mas ser alguém que pode conhecer os segredos da língua, portanto manejar bem o idioma, penetrar na estrutura frasal e no sentido das palavras. Tudo isso se situa mais no terreno da pedagogia da leitura e da escrita, em nível de ensino-aprendizagem para estudantes de produção de textos.

As considerações de Borges, seu trabalho como escritor vão muito além; são exercícios de uma mente privilegiada que passeia invariavelmente pelos caminhos da poesia e da criação. Por isso, não estranhe o leitor este seu arremate com um desfecho quase tão irônico quanto mortal:

“A pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever.” (Borges, 2000, p. 103)

BORGES, Jorge Luis. Esse ofício do verso. Trad. José Marcos Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Um comentário:

Angela Nair disse...

Ler é captar, escrever é propagar.
Ler é absorção, escrever é vazão.
Ler é alimentar, escrever é excretar...