7/19/2011

CENAS DA VIDA MINEIRA


Entre as conquistas do Modernismo brasileiro conta-se a valorização do cotidiano que, para os escritores mineiros, se associou ao que se convencionou chamar de ‘mineiridade’. Um selo que situa tantos nossos poetas quanto os ficcionistas entre duas noções conflitantes: a “cabeça baixa” e o “sentimento do mundo” drummondianos, melhor dizendo, entre o retraimento e o universalismo.

Podem se extrair essa e outras constatações da leitura do trabalho de Ivan Marques intitulado Cenas de um modernismo de província (São Paulo: Editora 34, 2011, 271 p.), excelente ensaio sobre o grupo do “Estrela” 1, que nos anos de 1925/26 ‘agitou’ Belo Horizonte com a publicação de A Revista. Carlos Drummond de Andrade, João Alphonsus, Pedro Nava, Emílio Moura, Cyro dos Anjos e outros faziam parte desse grupo e dessa revista da qual saíram três números que marcaram bem sua passagem.

Em Minas, houve mais três publicações: Montanha, Electrica e Verde. A primeira, da cidade de Ubá, e a segunda, de Itanhandu, tiveram existência muito efêmera e pouca repercussão, mas Verde, de Cataguases, tornou-se uma das mais conhecidas variantes do Modernismo no interior do país, seja pelos seis números editados, seja pela significativa contribuição às nossas letras.

Por aí se vê que Minas exerceu um múltiplo papel na produção e no diálogo modernista da época.

Na sua Cenas de um modernismo de província, Ivan Marques, porém, cita apenas Verde e lhe dedica quase um subcapítulo, destacando a figura de Ascânio Lopes.

No primeiro capítulo Marques salienta a importância do modernismo mineiro, dentro do qual analisa a estrutura e a evolução do grupo do “Estrela”. Nas demais partes dedica-se à interpretação da trajetória e obra de Drummond, Emílio Moura, João Alphonsus e Cyro dos Anjos, em avaliações pertinentes e valiosas para interessados no fenômeno “Minas”, esse imenso celeiro de valores para o cenário nacional.

Cito um fragmento: “Embora estimulado pelos acontecimentos de São Paulo, o modernismo teria conhecido em Minas uma dinâmica própria, ou melhor, um ponto de equilíbrio em que se combinavam a ousadia das inovações e a fidelidade ao passado literário: ‘curiosa modernidade mineira’, conclui Antonio Candido”.

Esta obra de Ivan Marques é uma leitura imprescindível para se conhecer o espírito mineiro que se aventurou, nos idos de 1920, carregado de todas as suas nuances e idiossincrasias, a colaborar na reforma da literatura brasileira que se fazia na época. O que realizou com muito êxito.

O grupo era assim chamado porque se reunia num bar chamado “Estrela”.

- Joaquim Branco – poeta, crítico, professor na Unis/FIC, doutor em literatura pela Uerj.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, professor.

O estudo de Ivan Marques parece muito interessante, na verdade, tudo que envolve nosso Modernismo é muito bom. Outro livro muito bom sobre um dos grandes autores de nosso modernismo é "Racado do nome", Ana Maria Machado, sobre as personagens de Guimaraes Rosa.
Abraços,

Mariele Furatdo.

Anônimo disse...

Olá, professor.

O estudo de Ivan Marques parece muito interessante, na verdade, tudo que envolve nosso Modernismo é muito bom. Outro livro muito bom sobre um dos grandes autores de nosso modernismo é "Recado do nome", Ana Maria Machado, sobre as personagens de Guimaraes Rosa.
Abraços,

Mariele Furatdo.

Angélica Lippi disse...

Oi professor.
Sinto imensa saudadedas aulas ministradas pelo senhor. Ali, naquele pequeno espaço da sala de aula, viajava no tempo através de suas palavras, sempre ditas com sabedoria e emoção contagiantes. Adoro ler seus artigos.
Abraços Angélica Lippi Passos