8/21/2012
A SUPOSTA INFERIORIDADE
Há certos artigos, poemas e trechos de livros que gostaríamos que todo mundo lesse, e nessa vontade às vezes os levamos aos amigos mais interessados.
Um desses textos que sempre me vêm à mente intitula-se "Sobre o óbvio", e foi escrito por Darcy Ribeiro na revista Civilização Brasileira no final dos 70. Nele, Darcy dá uma aula de inteligência e massacra o velho pensamento dominante que coloca a nós, centro e sul-americanos – mestiços – como supostamente inferiores aos nobres habitantes do hemisfério norte. Nosso antropólogo comenta e desmoraliza a balela de que, se tivéssemos sido colonizados por ingleses, alemães ou outra raça ‘superior’, estaríamos hoje em pé de igualdade com os norte-americanos.
São preconceitos que até hoje querem nos impingir, como os da inferioridade das mulheres, dos negros, judeus e outros em que as pessoas infelizmente acreditavam.
O artigo é crítico, irônico, argumentativo, e levanta todos os pontos da questão, desde aquele início de colonização até os poderes de uma classe que, a partir do descobrimento, domina a cena brasileira. Da sua leitura, sai-se de alma lavada.
Um livro que de certo modo complementa a matéria é O avesso e o direito (Trad. Valerie Rumjanek, Rio de Janeiro, Record, 1995), do franco-argelino Albert Camus, que no prefácio abre para uma constatação redentora:
“Encontram-se muitas injustiças no mundo, mas existe uma da qual nunca se fala, que é a do clima”. (p. 20)
Isso nada mais é que outra fixação em que tentam nos manter; a de que as pessoas que vivem em climas quentes são inferiores, preguiçosas e não lutam pela vida.
Nas recordações infantis de Camus estão as mais belas descrições de sua terra – a Argélia – e tantas outras assertivas esclarecedoras:
“[...] fui colocado a meio caminho entre a miséria e o sol. A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem sob o sol e na história; o sol ensinou-me que a história não é tudo”. “De qualquer forma, o belo calor que reinou sobre minha infância privou-me de qualquer ressentimento. Eu vivia na adversidade, mas, também, numa espécie de gozo. Sentia em mim forças infinitas: bastava, apenas, encontrar seu ponto de aplicação. Não era a miséria que colocava barreiras a essas forças: na África, o mar e o sol nada custam. A barreira está mais nos preconceitos ou na burrice”. (p. 18/19)
(foto do escritor Albert Camus)
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Um comentário:
O texto reitera a minha visão sobre o povo do norte, que por preconceito, talvez despeito rechaça o povo do sul. A verdade é que vivemos todos sobre o solo de um só planeta. Ecologicamente, somos parte integrante da mesma teia. Não sendo através dela, a teia, sequer chegaremos a lugar algum. O texto é muito bom, Joaquim.
Angela Nair Ribeiro da Silva
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