NA GALÁXIA DE GUTEMBERG
Joaquim Branco
Sempre gostei de ler vários livros ao mesmo tempo, e já pude observar que o hábito não constitui fato incomum entre as pessoas.
Tem a desvantagem de atrasar a leitura individual, mas traz a sensação de se poder passar de um texto para o outro sem se abandonar totalmente o anterior.
No momento, enquanto termino Bartleby o escrivão, de Hermann Melville, vou bem adiantado em O poder das biblioteca e em A revolução da cultura impressa.
Me espanto com a incrível modernidade (publicado em meados do século XIX) de Melville, e vejo o quanto o criador de Moby Dick antecipou o “estranho” e o “fantástico” com a estória de um copista de cartório que trilhou os caminhos da rotina até se incorporar intrinsecamente a ela. É uma novela simples e pesada ao mesmo tempo, essa Bartleby o escrivão, com ótimo prólogo de Jorge Luis Borges, que a Record editou há tempos e agora deveria reeditar.
Fascinado pelos mistérios da Biblioteca de Alexandria, penetrei nos dados de O poder das bibliotecas, artigos de pesquisadores de renome reunidos por Marc Baratin e Christian Jacob para a Editora UFRJ. São as memórias dos livros no Ocidente, tema por demais amplo que mostra a “acumulação infinita” que norteava a política de Alexandria, esmiúça materiais como o papiro e o pergaminho – ancestrais do papel – e faz outras abordagens. A coletânea revela um mundo de conhecimentos em que o livro aparece como figura central.
O terceiro exemplar em exame é A revolução da cultura impressa, de Elizabeth L.Eisenstein, lançamento da Ática, que historia a invenção da imprensa e suas implicações, desde os primórdios na Europa. Chamada ora de “arte divina” (do clero e do patriciado), ora de “amiga do pobre”, a imprensa, principalmente após a invenção dos tipos móveis de Gutemberg, revolucionou a comunicação, alterando conceitos, profissões, atitudes e mercados. A autora comenta todos os aspectos, inclusive o econômico, desta invenção, que aos poucos foi substituindo a função dos antigos escribas.
É assim que o prazer da leitura compartilhada de mais de um livro amplia o sentido de viagem que a imaginação de poetas e ficcionistas pode oferecer. E a rota que se está seguindo costuma, de repente, mudar, e surgir magicamente uma outra paisagem que nem estava nos planos do leitor.
3 comentários:
Engraçado como eu tenho o mesmo vício! Lendo sempre uns 3 livros ao mesmo tempo, fazendo sempre uma ponte entre eles, ponte (in)existente, que não existe mas está lá dentro, no fundo de um livro-maior-de-todos. Ótimo!
Lina Tâmega, Ferreira Gullar, Ezra Pound e Alcântara Machado estão, no momento, na agulha de minha arma apontada pra mente.Essa roleta russa faço todo dia.Tento me fixar numa coisa só, mas quando vejo, estou com uns três ou quatro volumes na mesa, em meu quarto. Achei que isso atrapalhava até ler seu artigo!Uf! Estou mais tranquilo!
Abraços.
Gostei do seu blog...
vou passar por aqui mais vezes.
Prof. Jurandir Júnior
jurajr@gmail.com
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