Recebi ontem o
livro “Rio do sono” (Garoupa Editora), obra póstuma de Celina Ferreira, enviado
por sua filha Márcia. Como não lembrar desta grande poeta que nasceu em Santana
de Cataguases (então distrito de Cataguases) em 1928.
Aos 4 anos de
idade sofreu um acidente que lhe prejudicou uma das pernas, causando-lhe
problemas físicos por toda a vida. Viveu um tempo em Cataguases, onde lecionou,
transferindo-se depois para Belo Horizonte, e ali se tornou assistente social.
Casou-se
aos 27 anos e transferiu-se para o Rio de Janeiro; teve 4 filhos e tornou-se
escritora de certo prestígio por sua poesia de grande poder expressivo.
Trabalhou na Rádio MEC, no Jornal do Brasil e na TV Tupi, como redatora.
Autora
premiada com o Prêmio de Literatura Infantil do Estado da Guanabara, em 1971 e
o Prêmio Brasília de Literatura Infantil e Juvenil e o Prêmio Fernando
Chinaglia, em 1978.
Sua obra foi
muito pouco divulgada, o que não a impediu de receber referências positivas de
Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Artur da Távola,
Affonso Romano de Santana e outros grandes escritores. Seu nome hoje figura
entre grandes vozes femininas da poesia brasileira como Henriqueta Lisboa e Cecília Meireles.
Dela disse Manuel
Bandeira em “Estrela da vida inteira”: “Não me tocou levemente:/ tocou-me fundo,/
Celina, a tua poesia,/ que me tornou para sempre/ seu cúmplice.”
Obras: “Espelho convexo” (1973), “Hoje poemas” (1966), “Invenção do
mundo” (1958). “Nave incorpórea” (1955),
“Poesia de ninguém” (1954) e outros.
Com sua morte
em 2012, a família providenciou a remoção do corpo para Cataguases (a seu
pedido) que foi velado na capela do cemitério no dia 7 de agosto. Transcrevo a
seguir um poema, que pode dar um pouco da dimensão artística de Celina Ferreira:
FLOR SOZINHA
Que flor é
aquela
na beira do
rio?
Ninguém a
descobre
na beira do
rio.
A flor é
sozinha,
parece comigo.
Na beira da
vida
também vivo
só. (“Hoje poemas”, p. 31)