6/18/2022

HERBERTO DUTRA

HERBERTO, A ORATÓRIA COMO ARTE
Enfileirados, alunos e professores iam entrando pelo corredor do antigo Cinema Machado (onde hoje é o Centro Cultural Humberto Mauro); por último, com os braços para trás, vinha o paraninfo das turmas dos grupos escolares de Cataguases, um homem alto de bela e tranquila figura. Minha mãe, atenta, apontou: “é ele, Herberto Dutra”. E virando-se para mim: “Você não poderia perder esta oportunidade de vê-lo falar”. Naquele instante vivido no final dos anos 50, eu ainda relutava em aceitar o convite dela, mesmo sabendo que ela nunca perdia uma oportunidade de promover momentos culturais para os filhos. Começou a cerimônia. Falam professoras, diretoras e alunos. Hinos são cantados e todo o auditório ouve atento. Por último, chega o momento pelo qual minha mãe ansiava. O paraninfo foi chamado a falar. Herberto pega o microfone e o afasta; levanta-se e inicia suas palavras de improviso, inspirando-se na letra do último hino cantado pelos alunos. Logo nas primeiras frases, eu percebi a importância da insistência para que eu visse e ouvisse aquilo. A voz colocada no lugar e as palavras saindo como num poema perfeito. Nos meus 10 anos de idade, como aproveitei aquele momento único, e como toda a plateia ouvia atentamente sem um barulho. Ao término, era como se pedíssemos mais. Alguns anos depois, já em meados da década de 50, eu soube que o orador que tanto me impressionara iria participar de um jantar político na mansão do dr. Pedro Dutra, seu irmão. Pedi a minha mãe para me levar até lá. Queria confirmar ou não aquela boa impressão que tivera. Chegamos cedo e esperamos por algum tempo. No meio do jantar, começaram os discursos, todos muito repetitivos, cheios de lugares-comuns. O melhor viria depois. Herberto se levanta e começa sua fala que vai aos poucos arrebatando a todos. Lembro-me de que ele começou fazendo comparações com as montanhas de Minas. Era um poema novamente. Fiquei maravilhado e agora bem mais, pois, com um pouco mais de idade, pude aproveitar suas palavras quase que integralmente. Ao final do jantar, pedi a minha mãe para que me apresentasse o orador, que acedeu prontamente. Eu lhe disse da minha admiração, e ele, abaixando-se e dirigindo-se a mim, afirmou que soubera do meu sucesso no ginásio, das minhas notas boas, do quadro de honra. Eu, mudo diante daquilo, não pude falar mais nada, apenas vê-lo lentamente se afastar para nunca mais. Herberto Dutra (1909 - 1970)

4 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado por compartilhar essa experiência decree visto meu saudoso pai, de quem carrego o mesmo nome.
Um abraço.
Herberto Dutra

Joaquim Branco disse...

Herberto, não fiz mais do que escrever sobre o que testemunhei. Favor me informar seu contato (email, facebook etc.)

Anônimo disse...

Bom dia. Fiquei muito orgulhoso e emocionado ao ler o texto q vc fez sobre meu pai, Herberto Dutra. Quem escreve é Edberto Dutra, filho caçula do Herberto. Abraço

Anônimo disse...

Bom dia, Professor. Enviei mensagens ao senhor pelo LinkedIn e Face Book. Meh email pessoal é herbdutra@att.net.
Mais uma vez, obrigado por registrar essa memória
Abraços
Herberto