11/25/2020

UM RIO IMITA O POMBA


 


UM RIO IMITA O POMBA
Há autores que despretensiosa ou pretensiosamente procuram indicar ao crítico e/ou ao leitor o caminho a seguir para a possível análise/leitura de sua obra, antecipando de que se trata etc. etc.
É o que ocorre, de certo modo, com o escritor Washington Magalhães, que há dias me enviou seu novo livro “Rio Pomba – um rio meu/seu/nosso”, e me previne: “É um trabalho jornalístico / técnico / didático. Nada mais que isso”.
Penso assim: um livro é um livro e nele o resenhista vê e escolhe um ângulo ou os vários que pretende abordar: o informativo, o descritivo, o literário, o filosófico, o histórico etc., e um bom livro sempre contém uma variedade de abordagens. Além disso, é como se diz: a sorte está lançada. Uma vez editado, lá vai o livro cumprir sua trajetória...e o autor perde o controle sobre sua obra.
Acrescente-se ainda que me surpreende o fato de uma pessoa extrovertida como o Washington temer se lançar ao literário por motivos que desconheço. Começo então por dizer que esse livro sobre o rio Pomba tem os ingredientes necessários para ser considerado um documento de literatura, e que seu autor fique tranquilo quanto a isso.
No roteiro dos capítulos, começando por documentar a água como vida e valor, Washington passa por uma espécie de biografia do rio e suas agruras, chega às leis que regem sua existência, às questões ambientais, percursos, questões econômicas, históricas, literárias e até educacionais.
Quanto a isso, a obra informa bastante, e para isso o autor faz uso de pequenos capítulos e uma sintaxe rápida que tornam a leitura fluente literalmente como rio, o que me sugere uma boa solução, em especial para o meu gosto.
Mas o que vou ressaltar aqui são os pontos em que o texto se mostra mais criativo nas imagens criadas pelo autor, e é aí que está a chave da minha leitura crítica.
No capítulo “Pomba, um rio”, o descritivo pede ajuda ao poético, e este comparece: “Um rio nasce de um olho d’água. De riachos e minas que brotam da terra como se estivessem fugindo dos aquíferos, dos lençóis freáticos, das bacias hidrográficas. A altitude lhe dá gravidade para correr ‘rio abaixo’. Aí esses olhos d’água, esses riachos, esses ribeirões vão se juntando até virarem um rio.” (p. 25)
Ou quando narra de modo direto e simples o paradeiro de seu trajeto: “A partir daí ele se junta ao rio Paraíba do Sul que segue majestoso em direção ao Oceano Atlântico.” (p. 28)
Às vezes o descritivo-narrativo aproveita para mostrar aspectos das cidades por onde passa o Pomba, deixando entrever a beleza e o pitoresco dos locais:
“E o rio segue, tangenciando parte do território do município de Descoberto onde as águas represadas ocupam áreas importantes. Descoberto também tem suas características de cidadezinha do interior mineiro. Casario de outros tempos e uma bela praça com suas topiarias sempre bem cuidadas. Descoberto visto da estrada parece estar pregado na montanha.” (p. 32)
Uma dica final para o autor: deixe de se autolimitar e vá em frente como esse rio que avança com suas pedrinhas e arranhões, pois isso tudo faz parte de um processo que você conhece tão bem como escritor que é.
O rio que imita o Pomba é um outro rio que está na memória e que foi e é fonte de inspiração dos Ronaldos, Pedros, Chiquinhos, Washingtons, Lecys, Cagianos e outros que registraram no papel suas diferentes e criativas emoções para os nossos leitores.



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