10/07/2012

NOS PORÕES DA MENTE


Considerado um dos mais importantes autores da literatura russa no século XIX, Dostoiévski, atormentado pelo pai despótico na infância e mais tarde pela epilepsia, produziu intensa obra ficcional.

O jovem Dostoiévski, nascido em Moscou em 1821, chegou a enfrentar a prisão e o degredo na Sibéria por ter participado em 1849 de um levante contra o czar Nicolau I. Lá casou-se com Maria Dinitrievna e escreveria o seu primeiro clásssico: Recordações da casa dos mortos.

Dez anos após, de volta a São Petersburgo e com novas ideias políticas, dedicou-se ao jornalismo e publicou Crime e castigo – sua mais célebre novela – e Noites brancas.
Apesar da venda dos livros, endividou-se com a doença da mulher, a quem abandonou para seguir para o exterior com a estudante Polina Súslova. Consegue trabalho na França, e gasta o dinheiro no jogo. Com remorsos pela sorte da esposa, deixa a amante e volta à Rússia, onde enfrenta situação pior: repressão, encargos e doenças na família.

A epilepsia e a angústia atacam-no. Nesse período concebe a novela Notas do subterrâneo, livro publicado no Brasil pela Editora Bertrand-Brasil em tradução de Moacir Werneck de Castro, capa de Victor Burton.

Reflexo direto de sua precária condição pessoal, o livro é um mergulho na mente humana, onde o autor vai buscar no pessimismo e na dor material para a obra, da qual transcrevemos alguns fragmentos:

“(...) não somente não mudamos, como simplesmente não podemos fazer coisa alguma. Seguir-se-ia, por exemplo, como resultado de uma consciência apurada, que ninguém se censura por ser um canalha, como se houvesse para o canalha algum consolo no fato de compreender que é realmente um canalha”. (p. 15)

“E agora termino minha vida no meu canto, escarnecendo de mim mesmo com o inútil e despeitado consolo de que um homem inteligente não pode vir a ser nada de sério desde que o só o idiota o consegue. Sim, no século XIX, um homem inteligente deve, está obrigado moralmente a ser, em essência, uma criatura sem caráter.” (p. 11)

Quando preparava para seu editor o livro Crime e castigoO Cidadão, torna-se um renovador do jornalismo. Quando publica Os possessos e Os irmãos Karamázovi já era o maior autor russo do momento.

2 comentários:

Anônimo disse...

Curioso como os grandes nomes das artes, compartilham de histórias semelhantes, com pais ou responsáveis, déspotas, egoístas, ignorantes. Com agravante de pertencerem a famílias com poucas posses. Pessoas com grande talento que por administração ineficiente terminam seus dias endividados. Com Dostoiévski não foi diferente.

Joaquim, seu texto é muito bom!
Angela Nair Ribeiro da Silva

Joaquim Branco disse...

obrigado, Angela.