6/10/2012
COSTUMES DA CORTE NO 'ANTIGO REGIME'
A época áurea do "Ancien Régime" (Antigo Regime) constitui o período que vai aproximadamente do século XV ao XVIII, quando floresceram as monarquias na Europa e do qual tivemos apenas um apagado finalzinho com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808.
O apogeu desse Regime se processou principalmente com o fausto dos salões nos palácios da França, e graças a um componente especial que foi a Corte, com sua estrutura de funcionamento em que sobressaíam as regras de etiqueta e os princípios de honra.
A Corte – um espaço hoje inexistente – juntava o público e o privado em torno do rei, sua família e os senhores de maior poder. Seu aprimoramento ‘coincide’ com o fim do feudalismo e prenuncia o Estado moderno fortalecido pelo poder real concentrado.
Foi só depois de muitas lutas, mudanças territoriais, deposições, casamentos por interesse e assassinatos é que surgiram as monarquias europeias, oriundas da junção de pequenos reinos. Nesse ambiente cortesão, nasceu então a necessidade da existência de um conjunto de regras e princípios que se pode chamar de etiqueta, uma espécie de ritual que regulava a vida na Corte.
Desse modo, a “busca de uma vida bela” e luxuosa constituiu o objetivo de um dos primeiros e maiores reinos – o do duque de Borgonha –, em torno do qual desfilava a nobreza da Corte. Saídos da lida dura das guerras, esses nobres passaram a uma vida ‘difícil’ porque sedentária, e precisavam dominar a sua violência aprendida e desenvolvida nas contínuas guerras. A etiqueta apareceu então como uma necessidade social para refrear os impulsos, enfatizar sentimentos e facilitar o convívio.
Interessantes informações como essas estão no pequeno volume "A etiqueta no Antigo Regime", de Renato Janine Ribeiro (Editora Moderna, 63 páginas), do qual extraímos algumas curiosidades.
O capítulo intitulado “As boas maneiras” conta que no século XI uma princesa de Bizâncio casou-se com o Doge de Gênova e trouxe em sua bagagem um garfo, pois sabia que na Europa este instrumento era desconhecido. No Ocidente só se usava a faca com que os homens cortavam carne, palitavam os dentes ou portavam como arma. A princesa oriental com o seu garfo escandalizou a Corte, sendo até acusada por um sacerdote de ímpia, provavelmente devido às semelhanças do instrumento com o tridente do diabo.
Naquela época, o Oriente era mais civilizado que o Ocidente, que só começou a manejar os talheres com o Renascimento, a partir do século XV.
Assim como o garfo, o uso do lenço foi outra prática que se iniciou na Renascença, e só se tornou mais difundida na época de Luís XIV, o rei-sol. Ensinava-se aos nobres que deviam usar sempre o lenço, lembrando que os camponeses assoavam o nariz no boné ou na roupa. O autor cita Giovanni della Casa: “Tu não deves, depois de te assoares, abrir o lenço e olhar o que este contém, como se pérolas ou rubis te houvessem descido do cérebro pelo nariz”.
A palavra etiqueta quer dizer “rótulo”, mas originariamente significava um “escrito num saco de processo”, para identificar, nos tribunais, os documentos de um processo. Depois passou a significar qualquer papel colocado em um objeto para indicar a sua natureza. Só mais tarde, no “Ancien Régime”, teve a acepção de conjunto de normas de comportamento.
Na França, a rainha Maria Antonieta ficou célebre por uma reverência com a cabeça e um olhar especial para colocar os nobres em seus devidos lugares como forma de etiqueta. Portanto, a etiqueta fazia parte do jogo social, por estabelecer hierarquias, normas e atitudes.
Com a Revolução Francesa, no final do Oitocentos, e a consequente subida da burguesia ao poder, a etiqueta, como comportamento leve e natural, desapareceu e com ela a vida prazerosa no Antigo Regime, passando a ser posteriormente e cada vez mais apenas um instrumento de competição de classes e de ascensão social.
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