1/30/2011

HORAS LÍQUIDAS



O que são horas diluídas?
São horas que se poetizaram no espaço
e apenas marcaram momentos fluidos?

Por quem foram vividas
e onde se perderam
para se depositar líquidas
em relógios borrados de páginas
de tempo?

Memória? Vento? Razão?
Quem então soube dessas horas
diluídas em esparsas gotas
geridas na memória
perdidas em frestas
nas desoras e vãos da História?

Um texto-hora grava frações
eternas que entristecem auroras
ou alegram umbrais
para deixar na hora-texto
apenas um sopro de vento,
um movimento para o ponteiro
dos segundos cravar no último minuto
do mundo.

(28.07.2010)

1/22/2011

CHRISTÓPHORO FONTE BOA



O ÚLTIMO DOS VERDES

Joaquim Branco


Já tinha desistido de conseguir maiores informações sobre o escritor Christóphoro Fonte Boa. Foram anos de procura em jornais, universidades, bibliotecas, até no Arquivo Mineiro fui buscar fontes. Ninguém sabia do nosso poeta.
E eis que agora obtive uma pista por meio do amigo e professor de Geografia Marcos Mergarejo Netto, com quem falei de minhas preocupações acerca daquele que era o mais ‘misterioso’ dos membros da revista Verde. Marcos conseguiu o número de telefone de um sobrinho de Fonte Boa, o advogado Válter Bueno Fonte Boa, residente em São Gotardo. Através do Válter cheguei a dona Veralice Fernandes Fonte Boa, uma sobrinha com quem Christóphoro conviveu em Juiz de Fora antes de morrer em 1993. Em breve, pretendo ir a Juiz de Fora para uma entrevista com dona Veralice.
Por enquanto, revelo os dados que consegui com a prestimosa colaboração do dr. Válter e de dona Veralice.
Christóphoro Fonte Boa nasceu em São Gotardo (MG) a 29 de agosto de 1906, filho de Sebastião Lopes Fonte Boa e Firmina Alves da Silva.
Fez os primeiros estudos em São Gotardo e parte do curso ginasial em Ouro Preto, concluído no Ginásio de Cataguases. Trabalhou em ambos como inspetor de alunos.
Em 1927 participou do Movimento Verde.
Em 1932, concluiu o curso de Direito na UFMG, em Belo Horizonte, e exerceu o jornalismo no Diário de Minas.
Pertencia à Academia de Letras de Juiz de Fora e escrevia no Diário Mercantil, quando residiu em Juiz de Fora. Morreu em Juiz de Fora em 1993.
Deixou o livro Eu, tu e a quarta dimensão, edição particular e fora de comércio.
Com o título sugestivo de “O sol na prosa”, transcrevo um poema de Fonte Boa que vale também pelas imagens de um cotidiano brincalhão retratando a capital mineira:

O SOL NA PROSA

Em Belo Horizonte em junho
o sol pela manhã não
é pau não.
(Se fosse em Ouro Preto as
lagartixas se espichavam
pra fora dos buracos
nas pedras centenárias)
Ao meio-dia não é de
todo católico debaixo
do braço dos transeuntes.
Mas às quinze é banzão.
nas sombras compridas
das árvores redondas.
Por que então aquele
homem varapau de
guarda-sol ou chuva
na paisagem mineira?

Fontes: revista Cidade das Letras, da Academia de JF, de 31.05.1945, p. 39; Poesia em Juiz de Fora (coletânea) - Projeto Documento - Pesquisa: Dormevilly Nóbrega – FUNALFA - 1981