1/26/2008

VIAGEM - poema de Guilhermino César



VIAGEM


O destino? Cataguases.
Quero depressa chegar.
O motivo da viagem
não é segredo nenhum,
virá nas folhas de cá:
- Embarco pra Cataguases,
que lá me vão enterrar.

Por favor, façam depressa
o transporte para o chão
do meu corpo e seu fedor.
Não deixem pelo caminho
mazelas que foram minhas,
herói de infeliz amor.

Me arquivem logo no chão,
no frio barro vermelho
do outro lado do rio,
um pouco depois da ponte
(com licença do Ouvidor).

Cubram, idem, o monturo
com pedra, areia e cimento,
mas não deixem nenhum brilho,
nenhum sinal exterior
que inda aos pássaros engane,
que a visitas e coveiros,
jornalistas e parentes
recorde o silêncio escuro
em que dormindo me fique.

Depois, me larguem, me olvidem.
Que eu seja bem digerido
pelo chão de Cataguases,
reino de Minas, Brasil.

(in "Lira Coimbrã e Portulano de Lisboa",
Livraria Almedina, Lisboa 1965)

(ilustração de Maria Antônia A. Rodrigues)

6 comentários:

Anônimo disse...

Grande Guilhermino, muito mais que um "arquivo" no chão. O senhor me ensinou muito sobre esse indivíduo de vida difícil. Merece um grande centenário!

Anônimo disse...

Gostei muito do poema, e por ficar conhecendo um pouco de Guilhermino César.

Leonardo Campos disse...

Resgate sempre importante e providencial dos personagens da mítica verde. Sempre verde em nossos pensametos.

Moacy Cirne disse...

Joaquim: boa lembrança, bom poema (que eu desconhecia). Parabéns pela postagem. Tem visto o blogue do Poema/Processo? Um grande abraço.

Anônimo disse...

Adorei o poema. É sempre bom conhecer um pouco mais sobre a obra de Guilhermino César. Sentimo-nos ogulhosos por tê-lo em nossa história cultural como integrante do movimento Verde.

Anônimo disse...

Gostei imenso do poema, um amigo me enviou. Gostei tbm do blog, parabéns!