Joaquim Branco Ribeiro Filho
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UMA CERTA CANÇÃO EM LENINGRADO
8/09/2025
"DEFESA DA POESIA"

6/20/2025
OS TERRITÓRIOS DO POETA
6/03/2025
5/30/2025
DEPOIS DOS NOMES
A narrativa ficcional de Carolina Valverde intitulada «Antes do Nome» (Belo Horizonte: Cas’a, 2023) nos brinda com o protagonismo feminino de vinte e dois personagens nomeadas – de Carla a Aurora – em que cada uma dá título a um conto.
O texto como um todo apresenta característica formal que consiste na utilização de parágrafos grandes e compactos, variando algumas peças para o uso de minúsculas no início das frases como a indicar quase um monólogo interior dentro da narrativa global.
Também em “Clarice”, há a mesma simbiose protagonista-narradora:
“E o livro em seu corpo. Ficava lá imaginando as curvas que as frases deveriam fazer antes de chegar às páginas dos livros. Queria compreender aquele universo de labirintos que, quando lido, fazia que ela se encontrasse fora do caos de sua própria mente.” (p. 18) (“Clarice”)No diálogo entre a senhora e a cuidadora, o perfil desta transparece na escolha das palavras:
Ou quando dona Celeste conversa mais uma vez com Lourdes:
Assim nos parece o livro de Carolina Valverde: boas estórias, domínio do texto e uma estreia auspiciosa da autora. O que de melhor poderíamos dizer?
5/03/2025
Joaquim Branco, um repórter poético
in "revista caliban" – maio 2025
Fernando Fiorese
Em tão breves linhas, não arriscaria sequer um resumo da
trajetória de Joaquim Branco, iniciada em livro com Concreções da fala (1969).
Confio ao leitor a tarefa de percorrer os bem mais de 50 anos da obra deste
poeta, crítico, professor e pesquisador, na qual opera sempre em diálogo com as
vanguardas dos anos 1950–60 (Poesia Concreta e Poema-Processo), mas sem nunca
dobrar-se a qualquer servidão a ponto de denegar a tradição e dar por
“encerrado o ciclo histórico do verso”*.
Além da óbvia madureza técnica nos muitos engenhos de sua
oficina poética, em Zona de conflito encontramos um autor por demais atento aos
acontecimentos e às coisas do mundo. Tal qual um repórter a registrar as nossas
muitas mazelas — com o cúmulo das quais os diários do planeta tratam de nos
dessensibilizar –, Joaquim Branco emprega todo um aparato verbivocovisual para
ressensibilizar corações e mentes.
Assim é que o poeta, o olho armado de economia sígnica,
repertório plural de saberes e referências e exemplar aparato gráfico-visual, se
faz repórter fotográfico e produz instantâneos das nossas desditas domésticas e
das catástrofes mundiais. São imagens críticas que não poupam a desigualdade
social sistêmica de cada dia, as desrazões da política, as barbáries do
liberalismo econômico e a indigência da sociedade de consumo, como se observa
nos poemas “A mão invisível” e “Homo quotidianus”, aqui reproduzidos. No
registro fanopaico dos acontecimentos da história imediata, à revelia do poeta
(bem como do jornalista), muita vez e súbito uma imagem se torna caduca por
conta de nefastos acasos do tempo, como se dá com “Bye, bye, trumpismo!!!” (p.
34), datado de 03.11.2020, poema que desejo atual o mais breve possível.
Também o verbo indignado e crítico de um repórter nada
imparcial dedica-se a descarnar em redondilho menor os fascismos mais prosaicos
(“Imitatio”, p. 68), a descontruir os simulacros deletérios das redes sociais
(“De como aceitar um facebooker”, p. 41), a rubricar com realismo cru tanto o
horror das migrações contemporâneas quanto os crimes ambientais nada culposos
(“MG: socorro”, p. 79).
Mas nesta “zona”, o conflito de fundo se dá entre
objetividade e subjetividade. E nas vezes em que esta última exsurge, o
repórter muda em cronista, um cronista lírico que oferta ao leitor o “refresco”
da beleza e do afeto, como em “Última flor” (p. 127) e “Meninez” (p. 77–78):
Fui lá tirá-la do colo
da infância
para mostrar o avesso
do pesadelo
– a noite estrelada,
o travesseiro de pelos
macios onde encostar
a cabeça de zelos.
* Tal propugnava o “Plano-piloto para Poesia Concreta”.
Referências:
BRANCO, Joaquim. Zona de conflito. Cataguases: Ed. do autor,
2023, 130 p.
CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de.
Plano-piloto para Poesia Concreta. In: TELES, Gilberto Mendonça (org.). Vanguarda
europeia e modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.