2/27/2015

COLÉGIO DE CATAGUASES - V



Complementando nossa série sobre o Colégio Cataguases, fechamos com esta foto da nossa bela conterrânea Penha de Souza em "solo" de pose criativa, na piscina do colégio. Lembra muito as "pin-ups" do cinema norte-americano dos anos 50, como Natalie Wood. Reparem no maiô, que é um charme. (in revista "O Cruzeiro", 11-02-1950)

2/26/2015

O CONTO, ESSA VALISE DE EMOÇÕES



O conto – seja ele muito curto ou apenas curto, experimental ou não, ou ainda o simplesmente tradicional conto realista com enredo claro e delineado – apresenta um limite de extensão, a partir do qual será considerado novela. Com tempo e espaço condensados, o contista tem que ser incisivo desde sua introdução, portanto todos os detalhes que vão sendo revelados devem ser observados atentamente pelo leitor com pena de se perder algo que as entrelinhas trazem implícito e que vai ser determinante para o clímax e a realização da história.

Julio Cortazar, no capítulo “Alguns aspectos do conto”, em seu Valise de cronópio (São Paulo: Perspectiva, 1974) mesmo reconhecendo que não há uma receita para se fazer um conto, propõe o que ele chama de “pontos de vista” – elementos que funcionam para formar a estrutura desse gênero literário.

Paralelamente à noção de limitação de páginas, Cortazar lembra, como decorrência disso, a eliminação de todos os elementos gratuitos ou decorativos do seu enredo, e acrescenta que tempo e espaço devem estar “submetidos a uma alta pressão espiritual e formal” (p. 152) para que se produza uma “espécie de abertura, de fermento que projete a inteligência e a sensibilidade em direção a algo que vai muito além do argumento visual ou literário” (p. 152).

Além disso, o ficcionista precisa manter a rédea do tempo e do espaço sob intensa pressão, tanto no que se refere ao enredo quanto à escritura utilizada, sem o que ficaria comprometida a realização do texto como relato ficcional.

Cortazar chega a afirmar que “um conto é ruim quando é escrito sem essa tensão que se deve manifestar desde as primeiras palavras ou desde as primeiras cenas” (p. 152).
A essa intensidade e tensão, alia-se um outro componente: o elemento ‘significativo’ do conto, que, ligado à temática, consiste na escolha de “um acontecimento real ou fictício que possua essa misteriosa propriedade de irradiar alguma coisa para além dele mesmo, de modo que um vulgar episódio doméstico, como ocorre em tantas admiráveis narrativas de uma Katherine Mansfield ou de um Sherwood Anderson, se converta no resumo implacável de uma certa condição humana, ou no símbolo candente de uma ordem social ou histórica” (p. 152-3).

Essa “misteriosa propriedade” – que representa um corte no cotidiano, no trivial, no puramente episódico e epidérmico – é que dá a qualquer narrativa o status de qualidade, de dinamicidade com o tempo e além dele, de cruzamento com o espaço comum dos acontecimentos, para se caracterizar como obra maior destinada a vencer as contingências da própria época em que foi escrita para se tornar um clássico da literatura.
Daí se concluir que não é a escolha do tema propriamente o que vai elevar o conto à categoria de esmero ou de “classicidade”, mas toda uma combinação de condições que presidem a sua elaboração pelo autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORTAZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In:______. Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 149.

(*) Este texto é parte de meu próximo livro sobre o minimalismo na literatura, intitulado O conto à meia-luz.

2/16/2015

MASSA AMORFA - poema visual



Poema visual construído a partir de massa de um pedreiro jogada na parede..... Me impressionou o vigor com que o profissional jogava o material na parede e como pouca coisa se perdia no chão. Daí surgiu de repente a ilação que fiz com o tema que abordei afinal, e que lembrava o trabalho de um outro Pedreiro. Observe-se o comparaivismo entre o Micro e o Macro...

2/14/2015

BRASÍLIA: A CIDADE E AS PALAVRAS





Nicolas Behr é um remanescente da geração de poetas que revolucionaram os anos 70 do século XX com sua poesia minimalista, rápida, bem-humorada e objetiva. E, para ser mais preciso, em doses homeopáticas. Ou seja, em pequenos livros feitos artesanalmente em mimeógrafos ou gráficas caseiras, foi editando ele mesmo suas preciosidades: "Iogurte com farinha", "Chá com porrada", "Brasileia desvairada", "Vinde a mim as palavrinhas" e uma série imensa de outros, sempre com a marca da qualidade unida à novidade.

Não se pode esquecer, porém, que a maioria deles tem a cidade de Brasília como leit-motiv e referência maior.

Esse brasiliense de coração agora comparece com mais um pocket-book que intitulou "BrasíliA-Z - cidade-palavra", um minidicionário que marca sua longa e intensa vivência na capital federal.

São verbetes que começam com a palavra "Alma" e terminam com "Vitrais" e catalogam praticamente tudo o que se falou ou escreveu sobre Brasília, numa demonstração de que esse maior conhecedor da cidade traçou um mapa completo de sua vida, mazelas e grandezas, acrescentando invariavelmente sua visão pessoal.

No verbete "Alma", está a impressão negativa que teve a escritora francesa Simone de Beauvoir ao passar por lá em 1960: "Brasília nunca terá alma. Estou em Brasília, a mais demente elocubração que o cérebro humano jamais concebeu [...]" E o nosso autor arremata: "A praga que Madame de Beauvoir rogou contra Brasília não vingou. Errou feio." (p. 12)

Há no livreto um roteiro impressionante sobre restaurantes, igrejas, vias públicas, bares, festas e ainda curiosidades sobre cigarras, presidentes, personagens marcantes, e tudo que deixa entrever o seu profundo conhecimento acerca de Brasília e especialmente sua história e suas virtudes de cidade especialíssima.

Para os que – como eu – admiram a capital brasileira ou gostariam de conhecer os meandros de sua geografia física e humana, não há melhor indicação livreira. É só pedir para o email: paubrasilia@paubrasilia.com.br

Vale como citação final o que Nicolas Behr diz em "Superquadras": "Ao adentrar uma superquadra, atenção: você está entrando em uma ideia. Toque esses pilotis com cuidado, pois que foram sonho. Esses blocos um dia foram apenas rabiscos, intenções. As nossas superquadras são a única experiência de habitação coletiva modernista que deu certo." (p. 146)

(fevereiro 2015)

2/01/2015

O TRIÂNGULO MACHADIANO



“O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que passou é só fantasiar.”
(MACHADO DE ASSIS, em crônica de 15.3.1877, na revista Ilustração Brasileira, apud revista Contato, nº 6, jan-mar/2000)

Um dos temas mais apreciados por Machado de Assis em suas obras é o do triângulo amoroso que coloca três personagens numa balança: o marido, a mulher e uma terceira pessoa, geralmente um homem.
Isso está patente nos seus mais importantes romances – Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, bem como em vários de seus contos.

O célebre triângulo não é propriamente uma invenção do romancista, mas uma reprodução da vida tal como ela é. E Machado de Assis, como um analista de casos e personalidades, não só contemplou-o como também produziu com sua ficção profundas introspecções dentro dessa temática e sob diversos ângulos.

Assim, vemos em Memórias póstumas de Brás Cubas – embora não seja este o leit-motiv da obra – um triângulo formado por Virgília, Brás Cubas e Lobo Neves, em que o personagem-narrador (Brás Cubas) faz o papel do traidor que malbarata um casamento já em si mal resolvido. Interesses de parte a parte se entrecruzam e acabam por formar a própria narrativa em vários trechos do livro.

A estória mais conhecida do público é a de Dom Casmurro, em que Bentinho se ‘sente’ o marido traído pelo melhor amigo – Escobar –, ficando Capitu no vértice mais caprichoso do triângulo. Aqui o triângulo está no centro do romance, pois é através dele que o narrador respira e faz palpitar a sua trama.

Já em Quincas Borba, temos novamente o protagonista como um "traidor" diferente – Rubião –, que se mete com o casal Palha-Sofia, mas nunca consegue perturbar a dupla de pilantras que se articula para roubar e realmente rouba sua fortuna.

Entre os temas mais caros a Machado – como a busca da perfeição humana, a loucura, a dúvida, o fantástico –, insere-se o triângulo amoroso nas suas narrativas, a ponto de fazer parte essencial dos seus três melhores romances e de tantos contos, e lhe permitir criar momentos inesquecíveis da literatura brasileira.

(desenho: Luzimar)